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Meninos e Meninas: Episódio 09 (Último)

CENA 5: INTERNA. CASA DE VICTOR. DIA

Márcia está na cozinha, preparando o almoço. Ela recebe uma mensagem.

MÁRCIA - Quem será, uma hora dessas?

Ela vai até o celular e logo abre um sorriso, ao ver duas novas mensagens de Henrique. Tem uma foto dele experimentando o uniforme do Colégio Anglo e um áudio.

HENRIQUE - (áudio) Eu te prometi que eu iria voltar para a escola e eu realmente vou voltar. Eu fiz minha matrícula no Anglo hoje. Quando eu parei os meus estudos só faltava um ano para acabar, então eu vou estudar com o Victor agora. Eu acho que vai ser bom para mim.

Márcia começa a gravar um áudio.

MÁRCIA - Eu fico tão feliz que você esteja voltando para a escola. Vai dar tudo certo, para qualquer coisa que você precisar eu estou aqui.

Ela deixa o celular sobre a mesa e volta a preparar o almoço, com um sorriso de orelha a orelha no rosto. Eliza chega até ela.

MÁRCIA - Bom dia.
ELIZA - Bom dia, querida.

Eliza nota a felicidade da filha.

ELIZA - Posso saber o motivo dessa alegria toda?
MÁRCIA - Acordei bem, algum problema?
ELIZA - Sei... Anda muito feliz para o meu gosto nos últimos meses. Algo me diz que tem gente nova na história e eu não estou sabendo.
MÁRCIA - Eu sou uma mãe de família, dona Eliza. Eu lá tenho tempo para gente nova?
ELIZA - Deveria ter. Você é uma menina jovem, bonita. Não tem mais nenhum bebê nessa casa. Victor já está bem grandinho. Hora de você começar a cuidar de você.

Márcia sorri com as palavras da mãe e logo volta a prestar atenção em seu almoço.

CENA 6: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - DIRETORIA. DIA

Sônia está em sua sala, terminando de arrumar suas coisas. Ítalo bate na porta e entra no local.

ÍTALO - Fiquei sabendo que você vai embora.
SÔNIA - É... Eu acho que não tenho mais nada para fazer aqui depois de tudo que aconteceu.
ÍTALO - Realmente.
SÔNIA - Eu amava muito o seu pai, Ítalo. Eu sei que você pode não acreditar. Mas eu amava ele. Amava muito. Queria poder ter amado mais. Mas no fim eu acabei tirando a vida dele.
ÍTALO - Foi um acidente. E isso já foi provado judicialmente. As câmeras filmaram tudo, você não fez por querer. E eu acredito que você gostava do meu pai, pode ter certeza.
SÔNIA - Eu sei que eu te fiz muito mal. Mas eu juro que no fim das contas, eu só queria ficar com o Humberto. E eu acabei fazendo muitas coisas erradas por conta disso.
ÍTALO - Você é viciada em amar. Você é uma daquelas pessoas que gosta de amar. Gosta de sentir. E pra você isso é mais importante que tudo. Só que para amar alguém você precisa se amar e se respeitar primeiro. Talvez se você se valorizasse um pouco, você não teria se submetido aos absurdos do meu pai. Se você tivesse dado limites, ele poderia ter até mudado por você. Você é doente. Mas você pode se tratar.
SÔNIA - Eu sei. Eu vou me cuidar. Você é tão maduro. Sabe tanta coisa para a sua idade. Sabe tanta coisa sobre amor.
ÍTALO - Eu não sei de nada. Na verdade... Na verdade eu acho que eu estou acabando com minha vida aos pouquinhos.
SÔNIA - Você gosta do Victor, não é? Eu fiquei sabendo da história do vídeo.
ÍTALO - Eu nem sei mais o que eu sinto por ele.
SÔNIA - Quando você tentou suicídio, o seu pai falou para eu procurar alguém da sua sala para ser seu amigo. E olha, a primeira pessoa que veio na minha cabeça foi o Victor.
ÍTALO - Por quê?
SÔNIA - Porque vocês combinam. Vocês tem uma conexão. Eu não sei explicar direito, mas o Ítalo que eu via, triste e pra baixo, foi embora. Meio hipócrita eu falar isso. Eu quem destruí sua vida, mas... Eu acho que o Victor ajudou a reconstruir.
ÍTALO - Não seja tão prepotente vai. Pra destruir minha vida você precisaria de um pouco mais que ser amante do babaca do meu pai.

Eles sorriem.

ÍTALO - Na real para mim o que passou, passou. Eu acho que a gente nunca vai se dar bem, talvez a gente nem se veja mais... Mas está tudo bem. De verdade. Está tudo bem.
SÔNIA - Da minha parte também. Está tudo bem. Chega de tudo isso. Eu espero que você seja muito feliz. De coração.

Eles apertam as mãos e se olham, possivelmente pela última vez.

CENA 7: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - PÁTIO. DIA

DUAS SEMANAS DEPOIS. A câmera passeia pelos corredores lotados de alunos. Os uniformes repicados, conversas paralelas e as risadas escandalosas como de costume estão presentes. Manu, Sarah e Jade entram na escola juntas. Sarah e Jade de mãos dadas. Jade parece tensa de voltar ao lugar em que foi abusada.

MANU - Nossa, quanta gente.
SARAH - Todo começo de ano é assim, se prepara.
MANU - Eu estou nervosa, eu não conheço ninguém da minha turma. Eu vou ser a repetente em meio a um monte de crianças.
SARAH - Não exagera, vai. Eles não são crianças. Eles só são um ano mais novos que a gente.
MANU - Eu sei, mas ainda assim vai ser torturante. Com dezesseis anos eu era insuportável.
SARAH - E quantos anos você tem agora?
MANU - Dezessete.

Sarah revira os olhos e sorri da fala amiga. Jade avista Evelly de longe. As duas trocam olhares. Os olhos de Jade se enchem de lágrimas rapidamente.

JADE - Eu preciso ir ao banheiro.
SARAH - Tudo bem. Eu vou tentar descobrir onde é a sala do terceiro ano.

Jade dá um beijo em Sarah e segue até o banheiro. Evelly observa.

CENA 8: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - BANHEIRO. DIA

Jade está passando uma água no rosto no banheiro, para se acalmar. Evelly adentra o local.

JADE - O que foi dessa vez?
EVELLY - Talvez a gente devesse ir na polícia.
JADE - O quê?
EVELLY - Eu sei que é meio tarde demais para isso, mas... Eu acho que o Alan merece pagar pelo que fez.
JADE - Então você acredita em mim?
EVELLY - Infelizmente sim. E você não sabe o quanto dói em mim. Eu amo o Alan. Mas eu não posso ficar do lado de alguém assim.
JADE - Eu não sei se eu quero denunciar. Isso só vai dar mais confusão.

Evelly se aproxima de Jade e estende a mão para a colega, retraída.

EVELLY - Eu vou te dar todo o suporte. Eu garanto. Nós vamos passar por isso juntas.
JADE - Qual é, Evelly? Você nem é minha amiga. Você me odeia na verdade.
EVELLY - Amiga... Eu não tenho mais amigas. A minha única amizade era com a Kiara e eu fiz questão de destruir por causa do Alan. Eu não sou amiga de ninguém. Mas eu posso ser.
JADE - E se o Alan te procurar? Você ainda vai pensar assim? Ele sabe muito bem como te manipular. Basta um beijo aqui e ali, para ele fazer sua cabeça.
EVELLY - Eu já estou calejada. Tem gente que não nasceu para ser feliz no amor. Eu sou uma dessas pessoas. O Alan não é uma boa pessoa. Eu amo ele, mas eu sou apaixonada numa versão dele que só existe na minha cabeça.
JADE - Exatamente. Uma pessoa que só você conhece. E isso pode parecer romântico. Mas se todo mundo fala que uma pessoa não presta, talvez seja hora de raciocinar um pouco.
EVELLY - Eu entendi, Jade. Eu estou tentando me afastar aos poucos dele. E então? Você quer denunciar?
JADE - Eu preciso pensar.

CENA 9: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - PÁTIO PRINCIPAL. DIA

Ítalo vem entrando na escola com um fone de ouvido, bem distraído. Do lado oposto, Victor caminha na mesma direção de Ítalo. Ele está junto de Henrique.

HENRIQUE - Essa escola está maior do que eu me lembrava.
VICTOR - Você já estudou aqui?
HENRIQUE - Há muito tempo atrás. Depois eu decidi ir para uma escola pública. E depois, acabei abandonando os estudos...
VICTOR - Mas agora você está de volta e limpo. Isso que importa.

Ítalo e Victor acabam se chocando pela falta de atenção. A mochila de Ítalo acaba caindo no chão e derrubando alguns livros.

VICTOR - Porra, foi mal.
ÍTALO - Tudo bem.

Eles se ajoelham ao mesmo tempo para recolher os materiais.

ÍTALO - Não tem problema, Victor. Deixa que eu pego essas coisas.
VICTOR - Não, de maneira nenhuma. Fui eu quem derrubei.

Ítalo pega um caderno e Victor recolhe os demais livros. Eles se levantam.

VICTOR - Tudo bem com você?
ÍTALO - Tudo. E com você?
VICTOR - Tudo bem também.
ÍTALO - Que bom...

Eles dois se encaram em um silêncio constrangedor. Henrique nota o clima tenso.

HENRIQUE - Quanto tempo, Ítalo.
ÍTALO - Verdade! Fico feliz que você tenha voltado a estudar, Henrique.
HENRIQUE - Eu também estou muito feliz. Foi uma fase difícil que eu passei, mas eu estou me tratando. Graças a minha irmã.
ÍTALO - A Paola é incrível. Desejo tudo de bom para vocês. Felicidades ao casal.
VICTOR - Não. É... A gente, não... Nós não estamos juntos não.
HENRIQUE - Eu e o Victor somos amigos agora. Bons amigos, pode ficar tranquilo.

Ítalo cora envergonhado.

ÍTALO - Estou tranquilo. Claro que eu estou tranquilo. Por que eu não estaria tranquilo?

Victor fuzila Henrique com os olhos, enquanto ele sorri da situação.

ÍTALO - (narrando) Victor... O que falar do Victor? Ele se declarou para mim, falou que me amava. Mas eu estava tão ocupado com tudo, com o meu pai e... Eu nem tive tempo de dar uma resposta. É claro que eu também gosto dele, acho que não preciso nem comentar. Mas... A minha vida está tão complicada. Nem sei mais.

Os pensamentos de Ítalo são interrompidos por uma chamada no microfone. Logo uma aglomeração de alunos começou a se formar no pátio para prestarem atenção em Otávio (Reynaldo Gianecchini) que estava no palco.

OTÁVIO - Fico muito feliz de estar aqui com vocês. Bom, como vocês sabem a senhora Sônia, minha irmã e antiga diretora da escola teve que se afastar por motivos pessoais. Coube a mim, entrar em seu lugar. Eu me chamo Otávio Monteiro. Morava no Rio Grande do Sul, até o ano passado. Espero me dar bem com todos vocês. Mas para isso... Algumas coisas vão ter que mudar por aqui.

Victor e Henrique se entre-olham confusos.

OTÁVIO - A partir de agora, o uniforme também terá parte de baixo. Saia, abaixo do joelho, para as meninas. Calça social, para os meninos. Tudo será vendido na mesma malharia. Bonés, gorros, óculos escuros, tudo está vetado. Tênis coloridos são proibidos também. Obrigatório o uso de tênis preto por completo. Sem qualquer detalhe branco.

Os alunos começam a cochichar entre si, transformando o local em uma verdadeira barulheira.

OTÁVIO - Gostaria de poder contar com o silêncio. Obrigado. Prosseguindo. É totalmente proíbido a entrada de alunos em qualquer outra sala que não seja a sua, durante intervalos, troca de professor e qualquer outra pausa. Eu sei que vocês tem amigos em outras turmas, mas deixem para falar com eles no pátio.

Sarah e Manu se olham e reviram os olhos para o novo diretor.

OTÁVIO - Namoro é completamente proibido também. Beijos, mãos bobas ou até mesmo um abraço mais apertado... Tudo é passível a suspensão. Vocês não estão em um motel. Tenham bom senso. Se os pais de vocês permitem toda essa promiscuidade, eu como diretor não permito. Pelo menos não em propriedades da escola. 

Sarah e Jade que estavam de mãos dadas se afastam um pouco. Henrique cochicha com Victor.

HENRIQUE - Isso é uma escola ou um quartel?
VICTOR - Esse diretor novo parece que chegou pior que a irmã.

A câmera foca novamente em Otávio, autoritário na frente. Os alunos o observam.

OTÁVIO - Por fim, o sistema de ensino também passará por reformulações. A começar pelas notas. A partir de agora, vocês serão avaliados por áreas. Humanas, linguísticas, exatas e ciências da natureza. Chega de tanta teoria. A partir de agora nós queremos lançar bons profissionais no mercado de trabalho que saibam lidar de forma prática com as coisas.

Manu cutuca Sarah e cochicha com a amiga.

MANU - Esse aí veio com a intenção de transformar a escola em uma máquina de caça níqueis.
SARAH - Isso de avaliação por área não existe. Que ideia mais frouxa.

Otávio nota a conversa paralela de Manu e Sarah.

OTÁVIO - Alguma objeção, meninas aí no fundo?

Ele diz pelo microfone. As duas gelam e ficam em silêncio, envergonhadas.

OTÁVIO - Foi o que eu pensei. Agora, podem seguir para as suas salas. Os professores estão ansiosos por esse momento, podem ter certeza.

Otávio se retira do local e os alunos voltam a se desperçar pelo pátio a caminho de suas salas.

HENRIQUE - Esse cara é meio barra pesada, né?
VICTOR - Pior que a Sônia, ele não vai ser. Eu acho que na medida do possível estamos em boas mãos. Definitivamente, são novos tempos no Colégio Anglo.

CENA 10: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - CORREDOR. DIA

Kiara está enchendo sua garrafa de água no bebedouro. Rafael passa por ela, que revira os olhos ao ver o homem.

KIARA - Perdeu alguma coisa por aqui?
RAFAEL - Agora está proibido passar pelo corredor? Que eu saiba, eu trabalho nessa escola.

Kiara ignora Rafael e toma um pouco de água.

RAFAEL - Essas férias não foram o suficiente para você parar com essa marra?
KIARA - Não tem marra nenhuma. Eu não vou voltar com você e ponto final. Você é abusivo. Eu não quero isso para a minha vida.
RAFAEL - Tudo bem... Só não esquece que eu tenho vários vídeos e fotos suas. Vídeos que podem cair na internet a qualquer momento.
KIARA - É mesmo? Então posta. Posta os vídeos da gente transando. Mas posta aqueles que tem sua cara gemendo, para eu ver se você é homem.
RAFAEL - Para de me provocar, Kiara. Você passou as férias toda postando coisas para mim nas redes sociais. Ou acha que eu não vi? Se portando como uma vadia por aí.
KIARA - Meu amor, que eu saiba você nem me segue. Fica entrando no meu perfil escondido por acaso? Acho que esse diretor novo vai achar um máximo saber que um professor anda stalkeando uma aluna.
RAFAEL - Nós temos bem mais que só essa relação de aluna e professor.
KIARA - A gente não tem nada. Coloca isso na sua cabeça de uma vez por todas. Me respeite e me trate como uma aluna qualquer. Até porque, se eu notar qualquer boicote em relação a mim eu boto a boca no mundo. Eu falo para todo mundo a verdade sobre a gente. Eu quero ser tratada como qualquer outra aluna, você está ouvindo?
RAFAEL - Ouvi, não precisa ficar repetindo. Um dia você ainda vai se arrepender de estar me abandonando.
KIARA - Cresce, Rafael! Você já é um homem. Deixa eu viver minha vida. Isso foi um erro. Isso nunca deveria ter acontecido. Nunca. Maldita hora que eu fui me envolver com você.

Kiara se afasta de Rafael, abalada. Ele esmurra a parede do corredor esbravejando.

CENA 11: INTERNA. DELEGACIA DA MULHER. DIA

A câmera passeia pela delegacia da mulher. O local tem em suas paredes vários cartazes de campanhas contra a violência sexual e doméstica, bem como números como o 180 e 100 e outros de função específica para a proteção feminina.

Logo, a cena corta para a sala da delegada. Evelly e Jade estão sentadas. Jade parece nervosa, suas mãos estão suando.

DELEGADA - Muito bem, meninas. Ambas são menores de idade?
JADE - Sim, a gente tem dezessete.
DELEGADA - O que trouxe vocês até aqui?
JADE - Eu queria fazer uma denúncia de um caso de abuso sexual.
DELEGADA - Certo. Quem foi a vítima?
JADE - Fui eu.

A delegada pega um ficha e começa a notar alguns dados de Jade.

DELEGADA - Nome completo e data de nascimento, por favor.
JADE - Maria Jade Oliveira Moraes. Nasci em 03 de março de 2005.
DELEGADA - Certo, Jade. Agora eu preciso que você me conte onde foi e o que você estava fazendo lá.
JADE - Isso foi no ano passado. Não lembro ao certo em que dia, mas eu sei que foi umas duas semanas depois do dia 31 de outubro porque meus amigos foram a uma festa. Aconteceu na minha escola. Na festa de encerramento. Eu estava descansando um pouco na sala de aula, sozinha, porque a festa estava muito barulhenta e os meus amigos ainda não tinham chegado. Até que ele entrou e... Se aproveitou da situação.
DELEGADA - Qual o nome do acusado?
JADE - Alan Albuquerque Welke. O filho do antigo deputado.
DELEGADA - Eu já recebi denúncias sobre esse rapaz, mas os casos sempre acabaram arquivados. Vocês sabem me informar se ele é maior de idade?
EVELLY - Ela faz dezoito no mês que vem.
DELEGADA - Então dependendo do caminhar do processo ele poderá por conta própria pelo crime. Eu preciso que você me detalhe exatamente como aconteceu e me de informações sobre a acessibilidade da escola em relação a isso.
JADE - Tudo bem.
DELEGADA - Podemos começar?

A cena fica muda, apenas com um instrumental tenso ao fundo. Jade conversa com a delegada e logo começa a chorar, provavelmente por relembrar os momentos de terror do abuso. Evelly segura firme nas mãos da colega, prestando apoio.

CENA 12: INTERNA. CASA DE VICTOR. NOITE

A noite já chegou e um céu cheio de nuvens cobre a grande São Paulo. Victor está em sua cama, apenas de cueca e embrulhado em um cobertor pronto para dormir. Seu celular toca.

VICTOR - O Ítalo me ligando a essa hora?

Victor atende, desconfiado.

VICTOR - Oi, Ítalo. Tudo bem?
ÍTALO - (dopado) Não... Claro que eu não estou bem, Victor. O que você acha?
VICTOR - Sua voz está estranha. Onde você está?
ÍTALO - (dopado) Em casa. Estou em casa com a louca da minha mãe.
VICTOR - O que aconteceu?
ÍTALO - (dopado) Eu tomei uns calmantes... Eu acho que estou meio chapado, sei lá.
VICTOR - Puta que pariu, Ítalo. Com uns calmantes você quer dizer quantos?
ÍTALO - (dopado) Relaxa. Eu não vou ter uma overdose, eu acho. Eu só queria te falar que... Na verdade, eu só queria dizer para você que eu gosto de você. Desculpa, se eu demorei para responder sua mensagem. Eu estava no velório. Velório de quem mesmo? Porra, de quem era o velório?

Ítalo diz entre risadas do outro lado da linha. Victor se levanta preocupado.

VICTOR - Eu estou ficando preocupado, Ítalo.
ÍTALO - (dopado) Não... Eu só. Eu só queria te perguntar se você... Como se diz? Se você quer ser minha namorada?
VICTOR - Namorada? Eu estou indo para a sua casa agora, Ítalo. Não se preocupa.

CENA 13: INTERNA. MANSÃO FERNANDES - ENTRADA PRINCIPAL. NOITE

Victor estaciona sua bicicleta em frente a mansão e corre desesperado para a campainha. Ele toca sem parar. Heloísa logo atende.

HELOÍSA - Mocinho, não te falaram que é falta de educação tocar na campainha dos outros essa hora?
VICTOR - Desculpa, é urgente.
HELOÍSA - Posso saber quem é você?
VICTOR - Eu sou o Victor, amigo do Ítalo. Ele me ligou e parecia meio estranho. A senhora sabe se ele está bem?
HELOÍSA - Ítalo está trancado naquele quarto há horas. Ninguém consegue falar com ele. Se você quiser tentar.

Ela dá espaço para que Victor entre. Ele corre e logo sobe as escadas a caminho do quarto de Ítalo. Heloísa o olha de cima a baixo.

HELOÍSA - É... Até que é bonitinho.

Antes de fechar a porta, ela olha a bicicleta de Victor jogada do lado de fora.

HELOÍSA - Mas deve ser pobre.

CENA 14: INTERNA. MANSÃO FERNANDES - QUARTO DE ÍTALO. NOITE

Victor bate na porta do quarto e tenta entrar, mas a porta está trancada.

VICTOR - Ítalo, sou eu. Abre aqui.

Ele bate novamente, mas não consegue escutar nada vindo do lado de dentro do quarto.

VICTOR - Ítalo por favor, me responde.

Ele pressiona a maçaneta da porta e consegue abrir, sem arrombar. Quando adentra o local observa Ítalo jogado no chão.

VICTOR - Ítalo! Ítalo, pelo amor de Deus. Está tudo bem? O que aconteceu?
ÍTALO - (dopado) O que você está fazendo aqui?
VICTOR - Eu fiquei preocupado. Você parecia mal pelo telefone. Parecia não, você está.
ÍTALO - (dopado) Fica aqui comigo, por favor.
VICTOR - Vamos tomar um banho. Um banho bem gelado para tirar essa ressaca.
ÍTALO - (dopado) Eu não bebi, eu só tomei meus remédios.

Victor olha para a cartela vazia de calmantes ao lado de Ítalo, no chão.

VICTOR - É, mas pelo visto você estava destinado a acabar com todo o estoque farmacêutico da cidade. Vamos, levanta.

Victor levanta Ítalo e vai tirando as roupas do rapaz aos poucos.

ÍTALO - (dopado) Acho que estou gostando disso. Você vai tirar a roupa também?

Ele diz rindo como um bobo.

VICTOR - Cala essa boca, seu idiota.

Victor termina de tirar as roupas de Ítalo e os dois seguem para o banheiro. Victor liga o chuveiro, mas Ítalo não entra por conta da temperatura.

ÍTALO - (dopado) Está muito frio isso. Você quer me matar de hipotermia?
VICTOR - Nem está tão frio assim. Vamos logo, Ítalo. Entra nesse chuveiro.
ÍTALO - (dopado) Entra comigo, por favor.
VICTOR - De jeito nenhum, eu não vou me submeter a isso.

Ítalo faz biquinho como uma criança. Victor reluta, mas logo tira as roupas também. Os dois entram juntos no chuveiro gelado.

ÍTALO - (dopado) Puta que pariu isso aqui está frio para caralho.

Eles se abraçam debaixo d'água para aumentar o calor. Ítalo inicia uma gargalhada pela situação. Mas a gargalhada logo se transforma em lágrimas.

ÍTALO - (dopado) Desculpa por isso. Eu só dou trabalho para você. Me perdoa.
VICTOR - Está tudo bem, Ítalo. Eu amo você e eu já te disse isso. Eu que fiz besteira com você no ano passado. Eu sempre vou estar aqui para quando você precisar. Eu te amo.

Victor olha bem no fundo dos olhos de Ítalo e passa a mão pelo rosto molhado do garoto. As pupilas completamente dilatadas pelos medicamentos, exaltavam a beleza de seus olhos. Eles se beijam debaixo do chuveiro.

CENA 15: INTERNA. LANCHONETE. NOITE

Manu está sentada em uma lanchonete comendo um sanduíche. Por acaso, Henrique também adentra o local. Ao reconhece-la, ele se senta ao lado dela.

HENRIQUE - Você é lá da escola, não é? Amiga do Victor.
MANU - É... Não sou muito bem amiga do Victor. Mas eu estudo no Anglo sim. Você é novato, né?
HENRIQUE - Sim. Na verdade, eu estou voltando a estudar agora depois de um período meio turbulento, vamos chamar assim.
MANU - Que bom. Só educação pode nos ajudar a sair dessa situação de merda. Era para eu estudar na sua sala, mas eu acabei repetindo por causa da vaca da nossa antiga diretora.
HENRIQUE - Como assim?
MANU - Longa história. Um dia eu te conto.

Um garçom vai até Henrique, que faz o seu pedido. Manu observa o rapaz.

MANU - Você já teve rolo com o Victor, né?
HENRIQUE - Pelo que eu saiba, você também.
MANU - Foi só um beijo.
HENRIQUE - Foi só uma transa. Uma e meia, vai.
MANU - Meu Deus!
HENRIQUE - Mas hoje em dia nós somos amigos. Eu pensei que eu nunca ia superar ele, mas deu certo. Nós somos melhores assim. Um apoiando o outro, como irmãos.
MANU - Eu e ele acabamos brigando mas... Eu gosto muito dele. Não só como amigo. Eu gosto dele de verdade. Mas ele gosta de outro, e tudo bem.
HENRIQUE - Tem certas pessoas que parecem ter nascido para ficarem juntas. O Ítalo e o Victor são umas dessas. E se serve de consolo, o tempo cura tudo. Daqui uns anos você vai olhar para ele e pensar: Meu Deus, eu gostei disso?

Manu esboça um sorriso.

HENRIQUE - Tudo bem que ele é um gostoso. Isso nós temos que admitir. Mas nada que um bom chá não resolva. Você vai encontrar o cara certo. Cara ou menina, né.
MANU - Como você sabe que eu também curto meninas?
HENRIQUE - Talvez eu tenha uma bola de cristal ou talvez eu só tenha visto sua barra da calça dobrada mesmo.

A câmera foca na barra da calça flair que Manu usava dobrada, bem como no all star um pouco desgastado que ela usava.

HENRIQUE - A vida é muito curta. Eu tenho dezoito anos e sinceramente eu não vi esse tempo todo passar. Daqui a pouco eu chego aos vinte, depois aos trinta, quarenta. Não dá para desperdiçar tempo pensando no mesmo cara. Vai beijar,
transar, beber... Aliás, beber ainda não.
MANU - Falando nisso de bebidas... Como você está? Digo, com relação as... Enfim.
HENRIQUE - Eu estou bem. Sinceramente eu não sou contra as drogas, pelo menos não as naturais. Eu acho que isso é um tabu desnecessário. Mas eu entendi que eu sou fraco para isso. Infelizmente eu não sei usar socialmente, por isso eu tenho que ficar longe.
MANU - Certíssimo. Eu também não sou contra a maconha, por exemplo. Mas assim como nem todo mundo sabe beber, nem todo mundo sabe fumar.
HENRIQUE - Sim, não é uma coisa que eu queira mais para a minha vida. Fora que a única forma de comprar isso no nosso país é dando dinheiro para criminosos, assassinos.
MANU - Exato. Acho que por isso pelo menos a maconha deveria ser descriminalizada. Quanto mais os governantes prenderem, mais tráfico vai existir.
HENRIQUE - É que para eles é conveniente, né? Nós ficamos aqui a mercê desses merdas, enquanto o mundo tá acabando.
MANU - Sabe o que eu parei para pensar agora?
HENRIQUE - O que?
MANU - Puta papo de maconheiro que a gente está tendo aqui.

Eles caem na risada. As outras pessoas presentes no local olham torto para eles, que notam e sorriem mais alto ainda.

HENRIQUE - Moral da história: Pau no cu do Victor.
MANU - Pau no cu do Victor.
HENRIQUE - Podia ser o meu.
MANU - Garoto?
HENRIQUE - Aquele veado gosta.

Eles voltam a sorrir desenfreados, enquanto uma chuva começa a cair do lado de fora.

MANU - Vamos banhar na chuva?
HENRIQUE - Eu me recuso.
MANU - É sério. Eu nunca banhei na chuva.
HENRIQUE - Como assim você nunca banhou na chuva?
MANU - Não banhando.
HENRIQUE - Isso é um alguma chantagem emocional para fazer eu me sentir culpado e ir banhar na chuva com você?
MANU - Poderia. Mas na verdade eu nunca banhei mesmo. Minha infância não foi muito equilibrada.
HENRIQUE - Sendo assim...

Henrique tira o casaco que vestia e puxa Manu pela mão. Os dois vão para o meio da rua e aos poucos tem os corpos encharcados pela água.

MANU - Será que essa rua alaga?
HENRIQUE - São Paulo, amor. 
MANU - É hoje que eu não volto para casa.
HENRIQUE - A gente fica pela rua.

Eles estendem as mãos para o alto. As roupas cobertas de água deixam os corpos dos dois marcados. Alguns carros passam rápido por eles, que gargalham alto a cada vez que ouvem uma buzina. A chuva vai diminuindo aos poucos.

CENA 16: INTERNA. CASA DE ALAN. NOITE

Alan e seus pais estão sentados na sala de estar. Seus pais assistem a televisão, enquanto Alan está um pouco mais afastado no celular. Ele recebe uma notificação. Uma foto de visualização única de Evelly.

ALAN - Uma hora dessas?

Ele revira os olhos e abre a foto, se deparando com uma imagem dela em frente a delegacia da mulher e a legenda: "Te vejo na cadeia em breve, estuprador". Ele se espanta.

ALAN - Puta que pariu!
MARTINA - Posso saber o motivo desse palavrão, mocinho?
ALAN - Eu estou muito ferrado.
VICENTE - Que merda você fez dessa vez, Alan?
ALAN - Olha isso.

Ele se levanta desesperado e mostra a foto para os pais.

MARTINA - Essa menina não é aquela louca que não te deixa em paz?
ALAN - Sim, a Evelly.
VICENTE - Por que ela está te chamando de estuprador?
ALAN - Porque tem uma menina na minha escola que me acusa disso.
MARTINA - Não, espera um minuto. Deixa eu ver se eu entendi. Você estuprou uma menina?
ALAN - Não, claro que não. Quem espalha isso é aquela vagabunda da Jade. Fudeu comigo e depois saiu espalhando besteira.
MARTINA - Só podia ser aquela vadia. Não foi ela mesma quem disse que deu para cidade inteira?
ALAN - Justamente. Ela é uma qualquer, sem classe. A senhora tem que ver como ela se veste na escola. Parece uma puta.
VICENTE - Alan fique tranquilo. Se isso não aconteceu não existem provas.
ALAN - Mas eu transei com ela. Não estuprei, mas transei. Isso não deixa marcas, sei lá?
VICENTE - Fique tranquilo, meu querido. Isso não vai dar em nada. De quebra ainda vamos colocar essas duas na cadeia por denunciação caluniosa. Elas já são quase maiores de idade não são?
ALAN - São sim.
MARTINA - Nós não vamos deixar que nada de ruim te aconteça, querido. Vai dar tudo certo.

Martina abraça Alan, confortando o filho. Ele abre um sorriso malicioso e aliviado.

CENA 17: INTERNA. MANSÃO FERNANDES. DIA

O dia já nasceu. Ítalo está acordado com Victor dormindo ao seu lado. Ele observa os cachos do menino que caem perfeitos sobre sua testa. Ele sorri e passa mão pelo rosto dele. Victor desperta, sonolento.

VICTOR - Que horas são?
ÍTALO - Acho que umas nove da manhã.
VICTOR - Nove da manhã? Mano... A gente tem aula.
ÍTALO - Relaxa, um dia não mata ninguém.
VICTOR - Mas a minha mãe mata.

Victor levanta espantado. Ítalo se levanta e abraça Victor, colocando o rosto em seus ombros.

ÍTALO - Ei, relaxa. Está tudo bem.

Ítalo beija o pescoço de Victor, que se derrete.

VICTOR - Você é péssimo.
ÍTALO - Não posso mais nem te dar um beijo?

Eles voltam a se deitar, agora de conchinha e de mãos dadas. Ítalo sendo a concha menor e Victor a maior.

ÍTALO - Sabia que você é muito bonitinho dormindo?
VICTOR - Eu pensava que eu era bonitinho sempre.
ÍTALO - Também. Mas com os cachinhos caindo na sua cara você fica mais lindo ainda.
VICTOR - A gente podia dormir juntos sempre se você quisesse.
ÍTALO - Mas eu quero.

Ítalo se vira para Victor.

ÍTALO - Eu gosto de você, eu gosto mesmo. Você me magoou, mas isso já passou.
VICTOR - Sim, eu já me decidi. Agora eu sei exatamente de quem eu gosto. E definitivamente é de você. Eu te amo.
ÍTALO - Eu também te amo, muito. Eu te amo tanto que chega dói. Sabe quando você fala de alguém e dói bem no fundinho do peito? Pois é. Eu gosto demais de você.
VICTOR - Você é a melhor coisa que já aconteceu na minha vida. Eu sou louco por você, também.
ÍTALO - Então quer dizer que agora... Tipo, agora a gente... Eu e você, tipo a gente namora?
VICTOR - Não sei, você quer namorar comigo?
ÍTALO - É óbvio que eu quero namorar com você. Na verdade eu acho que eu te pedi em namoro ontem.
VICTOR - Não, ontem você perguntou se eu não queria ser sua NAMORADA. Tipo: Oi, tudo bem? Por um acaso você estaria aceitando ser minha namorada?
ÍTALO - E então? Você aceitaria ser minha namorada?
VICTOR - Talvez.

Victor sorri e se deita sobre o peito de Ítalo.

SONOPLASTIA: https://youtu.be/20b7445YcIA

ÍTALO - Isso me fez lembrar de um surto que eu tive no dia daquela festa que você conheceu o Henrique.
VICTOR - Que surto?
ÍTALO - Aquele dia eu falei que o meu pai queria que eu chamasse uma garota para ir a festa comigo. E depois você falou que poderia ser minha garota, se sua mãe deixasse. E eu sei que não foi no sentido que eu pensei, mas eu fiquei surtando com essa frase por dias.
VICTOR - Você é tão gay.
ÍTALO - Eu sou gay literalmente. Por um acaso você está sendo homofóbico?
VICTOR - Não, amor.
ÍTALO - Do que me chamou?
VICTOR - Amor.
ÍTALO - Fala de novo.
VICTOR - Larga de ser gay.
ÍTALO - Fala de novo, por favor.
VICTOR - Amor, amor, amor, amor, amor.

Ítalo sobe por cima de Victor e os dois se beijam, apaixonados.

ÍTALO - Eu te amo, Victor.
VICTOR - Eu também te amo.

Eles voltam a se beijar. A câmera sobe aos poucos e podemos observar a cena ganhando tonalidades azuis, rosas e roxas. A música toma conta por completo da cena.

[Encerramento]: https://youtu.be/3hi2U8t2ZBs

 

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