CENA 5: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - PÁTIO. DIA
O horário do intervalo já chegou. Sarah, Manu e Ítalo estão passeando pelo pátio lanchando.
SARAH - Então quer dizer que vocês se beijaram?
MANU - É...
ÍTALO - Mas como foi?
MANU - Foi muito bom. Foi diferente. Diferente de quando eu beijei a Jade. Dessa vez não tinha nenhum desejo sexual no meio, digamos assim.
ÍTALO - Como assim?
MANU - Eu estava conversando com a Sarah sobre isso há uns dias. Eu não me sinto atraída fisicamente por meninos. Então quando eu beijei a Jade, querendo ou não foi porque eu achava ela gata, atraente e não porque eu gostava dela de verdade. Foi só um beijo. Mas com o Victor foi diferente. Eu não fiquei pensando no corpo dele, no rosto ou em como ele é bonito. Eu só... Eu só fechei os olhos e fui. E era como se não existisse mais nada ao redor. Como se o mundo tivesse parado para a gente.
Ítalo esmorece com as palavras de Manu.
SARAH - Mas e agora? Vocês estão juntos?
MANU - Não sei dizer. Quando a gente se beijou ele me disse que estava disposto a tentar. Só que depois deu toda aquela confusão na festa e a gente não se falou direito mais, só pelo celular.
ÍTALO - Pra mim isso de tentar, significa que ele quer namorar com você.
SARAH - Claro. Vocês dois precisam sentar, conversar e de preferência se beijar de novo logo pelo amor de Deus. Já foi muito tempo guardando isso aí.
ÍTALO - Bom, independente do que aconteça eu espero que vocês sejam muito felizes. Eu vou no banheiro.
SARAH - Está tudo bem? Você parece um pouco desanimado?
ÍTALO - Tudo bem sim. Acho que foi porque eu vi o meu pai, sei lá... Sempre me faz um pouco mal. Agora deixa eu ir, que eu estou apertado.
Ítalo se dirige ao banheiro masculino. Manu o observa, desconfiada.
MANU - Sabe de uma coisa?
SARAH - O quê?
MANU - Eu acho que o Victor ficou meio estranho depois que viu o Ítalo beijando aquele cara lá na festa.
SARAH - Como assim? O que você está querendo dizer?
MANU - Não sei... É uma dessas coisas que a gente não consegue nem verbalizar direito, mas a gente sente. Eu vi o olhar dele. Ele parecia irritado, enciumado, sei lá.
SARAH - Eu acho que você está com um pouquinho assim de ciúmes.
MANU - Não é ciúmes, eu vi. E principalmente agora que eu sei que tanto o Victor, quanto o Ítalo ficam com meninos também...
SARAH - Calma, amiga. Não é porque eles ficam com meninos que eles nescessariamente vão ficar entre si. Eles são melhores amigos, porra. Tanto eu, quanto você também nos relacionamos com meninas. Mas a gente nunca ficou, porque nós somos amigas.
MANU - Pode ser. Mas eu vi. Eu vi o olhar do Victor, ele não estava satisfeito com o que ele estava vendo definitivamente.
SARAH - Acho que é paranóia da sua cabeça. E outra, o Victor estava ficando com o garoto que teve overdose na festa até um dia desses, pelo que ele falou.
MANU - É... Talvez você tenha razão.
CENA 6: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - BANHEIRO FEMININO. DIA
Evelly e Jade estão lado a lado no espelho. Evelly está lavando as mãos, enquanto Jade está terminando um delineado. Já fazia um tempo que a garota não se maquiava.
EVELLY - Já faz um tempo que eu não te vejo mais com as suas roupinhas. O que aconteceu? Tomou vergonha na cara? Acho que não.
Evelly diz se referindo as roupas mais largas que Jade usava agora, tendo abandonado o visual mais sensual que era característico dela.
JADE - Eu estou passando por muitas coisas na minha vida, Evelly. Eu sei que você é uma puta de uma sem noção, mas antes de sair falando essas coisas para os outros você deveria pensar um pouco.
EVELLY - O que foi? Está depressiva? Quebrou a unha e agora virou gótica? Não seja patética, menina. Pelo menos assim você não sai chamando atenção dos meninos.
JADE - Estava demorando... Pela milésima vez, eu nunca quis chamar a atenção do Alan.
EVELLY - Ah é? Então por que ele estava na sua casa no final de semana? Em um jantar que você organizou por sinal.
JADE - Eu não organizei nada, foi a minha mãe. Ela é doida para me empurrar para qualquer um que tenha dinheiro, por isso ela inventou esse jantar. E o imbecil do Alan, não perdeu a oportunidade de dar em cima de mim.
EVELLY - Mentira. Você não faz nem o tipo dele, menina. Se toca.
JADE - Você também pelo visto não faz. Até porque nesse mesmo fatídico jantar, ele falou que você não era mulher pra ele, nessas palavras. E antes que você questione, eu não teria porquê inventar isso. Pergunta para os pais dele, já que você é tão íntima.
Jade faz menção de sair do banheiro, mas Evelly a puxa pelo braço. A morena da uma bofetada em Jade, descontrolada.
EVELLY - Por quê? Por que você faz isso comigo? Por quê? Será que você não cansa de ter tudo para você, menina?
Jade desfere outro tapa sobre o rosto de Evelly, retribuindo.
JADE - Nunca mais encosta um dedo em mim, sua maluca. Evelly, você precisa parar com essa sua loucura. Você não gosta de verdade do Alan, você é obcecada por ele. E paixão e obsessão são coisas bem diferentes.
EVELLY - Você não entende. Você sempre teve tudo nas mãos, Jade. Você não sabe o que é correr atrás de mim, porque você nunca precisou. Você sempre teve todo mundo aos teus pés.
JADE - Mas você não tem que correr atrás de ninguém. Tenha o mínimo de amor próprio. Você tá jogando sua vida no lixo, por causa de um babaca. Um moleque que não sabe nem falar direito. O que você quer da vida? O que você vai ser quando a escola acabar? A faxineira do Alan? Acorda, Evelly. Acorda para a vida, garota. Você não tem outra função a não ser correr atrás desse menino!
EVELLY - Quem é você para falar de vida, Jade? Você está sozinha. Nem a amizade do Victor você tem mais. Da minha vida, cuido eu.
JADE - Então cuida para lá. Me erra. Enfia na porra da sua cabeça que eu não quero dar para o filho da puta do seu namoradinho!
Jade dá um empurrão em Evelly e sai do banheiro. Evelly chora de raiva e esbraveja batendo na pia, com força.
CENA 7: EXTERNA. IBIRAPUERA. DIA
Victor e Márcia passeiam pelo parque muito bem arborizado. Victor parece abatido.
Márcia paralisa com a fala do filho. Victor fica vermelho pelo nervosismo.
Victor abraça a mãe, aliviado.
Eles se abraçam mais uma vez e seguem juntos para o carro. A câmera vai se afastando mostrando os dois juntos.
CENA 8: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - QUADRA POLIESPORTIVA. DIA
Evelly e Alan estão sentados na arquibancada da quadra, assistindo a um jogo de vôlei de meninas provavelmente mais novas. Alan flerta com o olhar com uma menina ruiva que está em posição de líbero na quadra, mesmo com Evelly deitada em sua colo.
SONOPLASTIA: https://youtu.be/-cCPDtpM2f8
Alan diz sem prestar muita atenção, com os olhos focados no jogo.
Evelly nota a frieza nas falas de Alan, mas desconsidera. Ela tenta segurar a mão do rapaz, mas não consegue porque logo ele estende as mãos para comemorar um ponto do time que ele estava torcendo.
CENA 9: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - PÁTIO. DIA
A câmera mostra uma grande aglomeração de alunos reunidos, cada um seu respectivo grupo de amigos. Alguns sorriem espalhafatosamente, outros escutam dividem fones de ouvido com músicas calmas ou grandes baladas agitadas. Jade vai até Sarah.
Jade olha para o lado e tem uma ideia.
JADE - Espera um pouco.
Jade respira fundo e sobe no mini palco que fica ao centro do pátio, geralmente usado para avisos da coordenação. Ela segura o microfone.
SONOPLASTIA: https://youtu.be/Yacwi_cuczw
JADE - Galera, eu queria um pouco da atenção de vocês. Na real, eu queria a atenção de uma pessoa em específico. Sarah, é com você que eu quero falar.
Todos os alunos largam o que estavam fazendo e prestam atenção em Jade. Sarah, que conversava com Manu estranha ouvir seu nome.
JADE - Sarah, durante muito tempo eu tive medo de falar sobre o que eu sentia por você. Mas, agora eu entendo que isso é a maior besteira. E que foda-se o que a minha mãe vai falar, ou o resto dessa escola toda vai achar. Eu gosto de você. E não, eu não estou bêbada ou drogada, ou sei lá mais o quê. Eu só preciso de você agora.
Sarah fica sem ação com as palavras de Jade.
JADE - E eu sei que você deve estar me odiando agora, mas não finja que você não gosta de mim também. Eu espero muito que você me perdoe um dia.
Em um impulso, Sarah sobe ao palco e arranca o microfone das mãos de Jade, beijando a garota. Um beijo acelerado e intenso. Quando se separam, elas tomam dimensão do que acabaram de fazer.
Elas sorriem e logo voltam a se beijar. Os alunos gritam e aplaudem muito o casal. Vindos da quadra, Evelly e Alan chegam ao local sem contexto nenhum apenas presenciando o beijo. Alan olha para a cena enojado.
CENA 10: INTERNA. HOSPITAL. DIA
Henrique ainda está na cama, prostrado. Paola entra no quarto, para ver como o irmão está.
Paola se senta ao lado de Henrique.
Henrique esmorece.
Paola para de falar com o irmão e pega o celular. Henrique encosta a cabeça no travesseiro novamente. Algumas lágrimas caem de seus olhos, mas ele logo enxuga.
CENA 11: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - ENTRADA. DIA
Victor está no carro com a mãe. Ele pensa na conversa que teve com Henrique mais cedo, principalmente na parte em que o garoto afirmava que Ítalo gostava de Victor.
No celular dele chega uma notificação, em um grupo chamado "De 4" composto por ele, Ítalo, Manu e Sarah. É o vídeo da declaração que Jade fez para Sarah, enviado por Manu no grupo. Ele assiste ao conteúdo muito chocado. Uma risada espontânea escapa do rapaz.
VICTOR - Que bom ver a Jade feliz assim.
Márcia estaciona.
Victor dá um beijo na mãe e se retira do veículo, adentrando na escola.
CENA 12: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - SALA DE AULA. DIA
Jade, Ítalo e Sarah estão conversando na sala de aula. Os alunos acabam de voltar do recreio.
O professor entra em sala e se dirige a sua mesa. Logo ele começa a preencher um cabeçalho no quadro.
CENA 13: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - CORREDOR. DIA
Victor sai da secretaria com um papel em mãos, para assinar. Ele se escora na janela para conseguir apoio para assinar. Ítalo, que saia do banheiro, vê o amigo.
Ítalo se aproxima de Victor, para escutar o que ele tem a dizer.
VICTOR - O Henrique me falou mais cedo no hospital que você gosta de mim. Que você é amigo da irmã dele e vocês já conversaram várias vezes sobre.
Ítalo cora.
Ítalo olha para baixo. Está envergonhado demais para trocar olhares com Victor.
Victor puxa Ítalo para mais perto de si. Ele passa as mãos pelo pescoço do rapaz e sobe lentamente o rosto dele, que pegava fogo de tanta vergonha.
SONOPLASTIA: https://youtu.be/KxJqMAQDGg4
Eles sorriem, emocionados.
Eles se olham. Ítalo tem os famosos olhos de Dália, que um dia Victor ouvira falar. Abrasadores, quentes e apaixonantes.
VICTOR - (narrando) Eu gostava dos olhos do Ítalo. Passei a entender junto dele a obsessão de Machado de Assis pelos olhos de Capitu. Ele também tinha os famosos olhos de "cigana oblíqua e dissimulada". Intimidador. Um olhar vindo diretamente do inferno, pois o céu não foi o suficiente para a imensidão dele.
Hipnotizados, ambos seguiram um o caminho da boca do outro. Os lábios se encontraram em perfeita harmonia. O beijo dos dois parecia ensaiado de tão bem embalado. Os narizes se encaixavam perfeitamente e eles seguiam o mesmo ritmo. Sem pressa, apenas vivendo o momento.
ALAN - Veja só, se não são as duas bichinhas da escola aqui no corredor.
Todo o romantismo contido no ambiente foi por água a baixo com as palavras de Alan, que filmava a cena.
Ítalo avança em cima de Alan, arrancando o celular de suas mãos.
VICTOR - Ítalo, para com isso.
Ítalo não dá ouvidos a Victor, e desfere um soco contra Alan.
Os dois começam a se socar e iniciam uma briga terrível no meio do corredor. Victor se desespera.
[Encerramento]: https://youtu.be/3hi2U8t2ZBs
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