Meninos e Meninas: Episódio 02

CENA 5: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - BANHEIRO FEMININO. DIA

Jade está no lavabo, lavando as mãos. Evelly entra no banheiro e se dirige ao espelho, para retocar a maquiagem.

EVELLY - Bom dia, querida.
JADE - Bom dia, Evelly. Tudo bem?

Pelo espelho, Evelly olha para Jade de cima a baixo. Focando em sua vestimenta.

EVELLY - Sem querer ofender, mas... Por que você anda com essas roupas tão curtas?

Evelly diz se referindo a saia a cima do joelho que Jade usava.

JADE - O uniforme da escola é só a camiseta e o blazer. Em baixo a gente usa o que quiser.
EVELLY - E precisa ser assim tão curto?
JADE - Essa cidade é um calor absurdo. E outra, eu estou na escola, não em uma igreja.
EVELLY - Justamente porque você está na escola, você deveria ter mais bom senso. Até porque tem meninos aqui.
JADE - Meu amor, eu sei bem onde você chegar. Eu não tenho nada com o Alan. Nada. Não fiquei com ele na escola, nem na festa que ele deu e nem em lugar nenhum.
EVELLY - Na festa você não ficou mesmo. Quem estava com ele era eu.

Evelly se aproxima de Jade.

EVELLY - O Alan é meu.
JADE - Que bom, pode ficar para você. Ele é só meu amigo. Nem isso quase.
EVELLY - Amigo? Você não é amiga de ninguém, no máximo do Victor. Eu quero você longe do Alan!
JADE - Se você soubesse o quanto é feio para você sair encurralando meninas no meio banheiro por causa de homem.
EVELLY - Não vem com papinho de feminista para cima de mim não. Eu te conheço muito bem.
JADE - Meu amor, eu vou repetir. O Alan é um babaca, que não chega a ser nem meu amigo. Não tem disputa aqui. Faça bom proveito dele. Aliás, se vocês quiserem transar no meio do pátio eu acho ótimo. Vai ser super sexy.

Jade dá um beijo na bochecha de Evelly, em deboche e sai do banheiro. Evelly fica irritada.

CENA 6: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - DIRETORA. DIA

A câmera passeia pela sala da diretora. O ambiente é bem organizado e tem uma paleta de cores extremamente monocromática. Sônia (Fernanda Paes Leme), está sentada em sua poltrona. Victor adentra ao local e se senta.

VICTOR - Mandou me chamarem, diretora?
SÔNIA - Sim, eu preciso conversar com você Victor.
VICTOR - Aconteceu alguma coisa?
SÔNIA - Na verdade não. Eu só preciso da sua ajuda. Como aluno bolsista a escola encara você como um parceiro.
VICTOR - Claro, eu estou aqui para o que vocês precisarem.
SÔNIA - Eu não sei se você ficou sabendo, mas há muito pouco um aluno da sua sala tentou suicídio.
VICTOR - Nossa, eu não sabia. Eu passei duas semanas sem vir, por conta do falecimento do meu irmão.
SÔNIA - Claro, eu fiquei sabendo. Meus pêsames.
VICTOR - Eu posso saber quem foi?
SÔNIA - Foi o Ítalo Fernandes.
VICTOR - Perdão... Acho que ele não é da minha sala. Não conheço ninguém com esse nome.
SÔNIA - Como não? Ele é aluno do segundo ano.

Sônia mostra a foto de matrícula dele no computador. Victor então reconhece o rapaz.

VICTOR - Ah... Sim, ele é da minha turma mesmo. Mas eu não sabia nem o nome dele, a gente nunca trocou uma palavra.
SÔNIA - Eu sei. Nem você, nem o resto da turma, ninguém nunca falou com ele. Ele tem sérios problemas de relacionamento e um estado muito avançado de depressão.
VICTOR - A senhora quer que eu me enturme com ele, é isso?
SÔNIA - Exatamente. Eu posso contar com você?
VICTOR - Eu não sei... Eu não estou em uma boa fase. A minha vida está um caos e... Eu nem acho isso muito correto. Sei lá, eu posso falar alguma coisa que ele não goste e isso só vai gerar mais gatilhos. Eu não conheço ele.
SÔNIA - É um risco que você vai ter que correr, Victor. Por favor, ele precisa de amigos!

CENA 7: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - GRAMADO. DIA

Kiara e Evelly estão sentadas juntas, lanchando no gramado. Evelly está falando algo, enquanto Kiara tem a atenção voltada ao celular.

EVELLY - Eu acho que eu não estou errada em falar isso. Essa menina é muito oferecida. Ela claramente está dando em cima do Alan.

Podemos observar que Kiara trocava mensagens com Rafael, com um sorrisinho de canto.

KIARA - (mensagem) Você não vem hoje?
RAFAEL - (mensagem) Hoje dou aula em outra escola. Estou com saudades.
KIARA - (mensagem) Eu também. Posso passar na sua casa hoje?
RAFAEL - (mensagem) Claro. Vou adorar de dar umas boas aulas extras.

Kiara sorri alto. Evelly encara a amiga.

EVELLY - Por um acaso você está escutando o que eu estou falando?
KIARA - É claro que sim. Amiga, eu acho meio babaca você ficar brigando com outras pessoas por causa do Alan. Fora que eu acho que a Jade é lésbica, sei lá.
EVELLY - Diz ela que é bissexual. Eu acho que ela é uma safada, isso sim. Da para qualquer um.
KIARA - Isso não te diz respeito. Você é meio obcecada pelo Alan. E isso é tóxico.
EVELLY - Quem é você para falar de tóxico? Logo a menina que tem um caso com o professor.

Kiara repreende a amiga com o olhar.

KIARA - Fala baixo, maluca. E outra, eu posso ter um caso com o Rafael. Mas pelo menos ele não me chama só quando quer transar.
EVELLY - Tem certeza? Se você é assim tão especial para ele, por que ele não te assume? Por mais que a diferença de idade seja grande, você já tem idade de consentimento perante a lei. Não é pedófilia. Ele só tem vergonha mesmo.
KIARA - Cala a sua boca. Ele é nosso professor. Pode complicar para o lado dele.
EVELLY - A verdade é que essa história de vocês é muito problemática, isso sim.
KIARA - A sua com o Alan também. E nem por isso eu fico me metendo. Só estou tentando te ajudar. Agora, se você quer sair por aí xingando os outros no meio do banheiro vai em frente.

CENA 8: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - PÁTIO. DIA

Os alunos estão no recreio. Uma fila muito desorganizada se forma perto da cantina. Jade e Victor vem conversando.

JADE - Quer dizer que a diretora te colocou de babá do suicida?
VICTOR - Não fala assim, Jade. Ele tentou se matar de verdade.
JADE - Foi mal. Mas você aceitou?
VICTOR - Tive que aceitar. Mas eu tenho medo. Vai que eu vou falar com ele e ele é grosso comigo.
JADE - Não tem essa possibilidade. Todo mundo daquela sala gosta de você, Victor.
VICTOR - Não, Jade. As pessoas gostam de você e me respeitam porque eu sou seu amigo. É diferente.
JADE - Tanto faz, o ponto é que eu tenho certeza que ele não vai ser grosso com você. E outra, talvez até seja bom vocês se aproximarem mesmo.
VICTOR - Bom por quê?
JADE - Pensa só: você está numa fase ruim, e ele também. Vocês podem se ajudar.
VICTOR - Sei não... Mas eu vou ter que tentar.

Sarah passa pelos dois e acaba esbarrando em Jade.

SARAH - Desculpa.
JADE - Eu que peço desculpas, tudo bem.

Elas se olham um pouco envergonhadas e logo seguem seus caminhos.

VICTOR - Desde quando você pede desculpas para a Sarah, garota?
JADE - Victor, tem muitas coisas que aconteceram naquela festa que eu ainda não tive tempo de te contar.
VICTOR - Como assim?
JADE - Teve toda essa história do seu irmão, você estava de luto e enfim... Ainda não tive como te falar.
VICTOR - O que você aprontou agora, dona Jade?

CENA 9: FLASHBACK. INTERNA. CASA DE ALAN. NOITE

SONOPLASTIA: https://youtu.be/Eb3HukXY3KU

A série volta para o dia da festa com a narração de Jade. Ao contrário da calmaria presente no gramado onde Manu e Victor estavam, do lado de dentro as coisas estavam bem agitadas. A câmera mostra Jade virando um copo de whisky.

JADE - (off) Você tinha sumido, eu estava sozinha com o Alan no meu pé o tempo todo. Então eu e a Sarah começamos a conversar.
VICTOR - (off) Eu nem sabia que a Sarah estava naquela festa.

A cena corta para Sarah e Jade conversando. Ambas tomadas pelo álcool, soltavam algumas gargalhadas espalhafatosas e fora de hora.

JADE - (off) Como sempre a gente tava trocando algumas farpas. Mas dessa vez, acho que também porque eu tava bêbada para caralho, aquilo parecia tão excitante.
VICTOR - (off) Não, eu não estou acreditando nisso.

A câmera mostra as duas entrando em um banheiro e trancando a porta. Elas se beijam intensamente. Jade se ajoelha, e sobe o vestido que Sarah usava. Ela tira a calcinha da garota e não demora em levar a boca até a sua intimidade. Sarah arqueia seu corpo ao sentir o toque.

JADE - (off) O gosto dela é delicioso, seu cheiro é mecanizado, mas ao mesmo tempo se mistura ao odor de morango do seu creme de pele. Mano, certeza que ela deve usar algum produto em sua parte íntima, porque ela é cheirosa para caralho.

Os movimentos da língua de Jade se intensificam, demonstrando que Sarah pode ter um orgasmo a qualquer momento. Seus gemidos são cada vez mais fortes, o suor de seu corpo não é contido. Está quente, muito quente. Jade logo trata de lambuzar mais profundamente a vagina da parceira. Ela eleva suas pernas, enquanto Jade termina de se despir. Sarah segura nos cabelos de Jade.

A essa altura os movimentos estão um pouco mais frenéticos e se nota as pernas de Sarah trêmulas, bem como sua respiração descontrolada. Ela está próxima. Jade penetra seus dedos sobre a parte íntima da parceira que geme mais alto. De cima, a câmera mostra Jade praticando o ato com os olhos fixados em Sarah.

CENA 10: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - SALA. DIA

Após o flashback, a cena tem um corte descontínuo direto para a sala de aula. Jade e Victor ainda estão conversando.

JADE - E depois desse dia a gente nunca mais se falou.
VICTOR - Jade, você não pode sair por aí transando com todo mundo. Você sabia que isso é perigoso?
JADE - Que papo de velho, Victor. Eu me cuido bastante, para a sua informação.

A professora entra em sala e logo os alunos que estavam um pouco agitados após o período do intervalo, se sentam em suas respectivas carteiras. Victor observa Ítalo.

VICTOR - (narrando) Quando eu olhei para o Ítalo aquele dia, eu me dei conta de que ele sempre esteve lá. Eu só nunca tinha prestado atenção. É triste pensar que tem pessoas tão invisíveis assim. Pessoas que passam por um monte de coisas e ninguém nem fica sabendo.

A câmera foca na professora Lívia (participação especial de Linn da Quebrada). Podemos ver pelo crachá em seu uniforme, que ela é professora de física.

LÍVIA - Bom meus amores, como vocês já devem ter visto no sistema as notas mensais de vocês não foram tão satisfatórias.

Jade cochicha com Victor.

JADE - Quanto você tirou? Você já viu?
VICTOR - Zero, né? Eu não fiz prova, foi bem na semana do velório do meu irmão.
JADE - Verdade... Eu tirei nove. Mas poderia ter sido melhor.
VICTOR - Vai tomar nesse cu, Jade.

LÍVIA - Vocês aí no fundo, atenção por favor. Eu vou passar um trabalho em duplas sobre Entropia valendo dois pontos na média. Eu quero que vocês façam um slide e me enviem por e-mail.
ALAN - Vai ter que apresentar na frente isso?
LÍVIA - Não, fiquem tranquilos. Como o tema é o mesmo para todos, não há nescessidade de apresentar aqui na frente. Podem formar as duplas.

Jade logo olha para Victor.

JADE - A gente vai junto, não é?
VICTOR - Eu tenho que ir com o Ítalo, esqueceu?
JADE - Verdade. Vai lá falar com ele, boa sorte.

Victor se levanta de sua cadeira e vai até o lugar de Ítalo, que era na fila ao lado da sua. O menino parecia bem abatido e tinha olheiras enormes.

VICTOR - Ou, quer fazer o trabalho comigo?
ÍTALO - Por quê?
VICTOR - Sei lá, a gente nunca fez trabalho juntos. Acho que seria legal. Ou você já tem dupla?
ÍTALO - Não, na verdade não. Pode ser, se você quiser.
VICTOR - Me passa o seu número, por favor.
ÍTALO - Eu... Eu tô sem celular. Mas se você quiser, me chama no Discord.

VICTOR - (narrando) Discord... Eu não vou mentir, eu julguei ele bastante nesse momento. Tem certos aplicativos que falam bastante sobre você. O Discord com certeza é um desses.

VICTOR - Eu não tenho Discord... Mas sei lá, talvez seja melhor a gente se reunir pessoalmente mesmo.
ÍTALO - Pode ser.
VICTOR - Na minha casa ou na sua?
ÍTALO - Se for na minha eu agradeço. Não estou muito afim de sair de casa.
VICTOR - Beleza então. Me passa o seu endereço.

Ítalo arranca um pedaço de papel e escreve o seu endereço para entregar ao colega. Victor presta atenção na letra do rapaz.

VICTOR - (narrando) A sua letra também diz muito sobre a sua personalidade. Pessoas com a letra muito redondinha tendem a ser tediantes, a Jade é uma excessão.

A letra de Ítalo era um pouco torta e com alguns traços fora do lugar. Aparentemente a coordenação motora do rapaz não era tão boa. Talvez pelo fato dele ser canhoto.

CENA 11: INTERNA. COLÉGIO ANGLO - DIRETORIA. DIA

Humberto Fernandes (Carmo Dalla Vecchia) está sentado conversando com Sônia.

HUMBERTO - E então? Você conversou com o tal Victor?
SÔNIA - Sim, eu conversei com ele. Ele me garantiu que vai tentar se aproximar do Ítalo.
HUMBERTO - Ótimo. Uma preocupação a menos. O Ítalo precisa de um parceiro que leve ele para sair e essas baboseiras todas.

Sônia se levanta de sua cadeira, tranca a porta e fecha as persianas. Ela abraça Humberto por trás e beija o pescoço do homem.

SÔNIA - Agora que isso já foi resolvido, a gente poderia relaxar um pouco não é?

Ela massageia as costas do homem e em seguida vai descendo as mãos até a barra da calça dele. Ela abre o zíper da calça social que ele usava e coloca a mão por dentro. Sônia começa a masturbar Humberto, que solta alguns gemidos contidos.

CENA 12: INTERNA. MANSÃO FERNANDES. DIA

Victor está sentado na área externa da mansão. O local é bem arborizado e tem uma estrutura imensa, com muitos detalhes em vidro e porcelanato. A piscina é imensa. Victor troca mensagens com Jade.

VICTOR - (mensagem) Com quem você ficou no trabalho?
JADE - (mensagem) Eu estou fazendo com a Manu. Ela está aqui em casa.
VICTOR - (mensagem) Boa sorte. A casa do Ítalo é enorme. Capaz de eu me perder aqui dentro.

Ítalo chega até Victor e se senta ao lado dele com um computador.

ÍTALO - Antes de você chegar eu estava dando uma pesquisada sobre o assunto, porque eu faltei bastante aulas nesses últimos meses. Eu acho que eu entendi.
VICTOR - Você gosta de física?
ÍTALO - Mais ou menos. Eu não sou de exatas.
VICTOR - Eu gosto bastante de física. Quando eu era criança não deixava nenhum amiguinho da escola ver o que eu assistia no YouTube, porque eu tinha vergonha. Eu só assistia vídeos de astrofísica. Eu devia ter o quê... Uns oito anos, por aí.
ÍTALO - Gosto meio peculiar o seu... Assistir vídeo de astrofísica com oito anos. Acho que com essa idade eu assistia novelinha no SBT.

Eles sorriem, mas logo o assunto se encerra e um silêncio um pouco constrangedor se instaura no local. Victor fica um pouco sem graça.

ÍTALO - Quem mandou você se aproximar de mim? Foi a Sônia?
VICTOR - Não... Eu só queria fazer trabalho com uma pessoa diferente.
ÍTALO - Corta essa.
VICTOR - A Sônia me pediu para eu tentar me aproximar de você sim, não vou mentir.
ÍTALO - Típico dessa vagabunda.
VICTOR - Vagabunda? Ela é nossa diretora, porra.
ÍTALO - Pra mim ela não é só isso. A Sônia é amante do meu pai. Humberto Fernandes, conhece?
VICTOR - Claro, todo mundo conhece ele. O cara é dono da maior mineradora do Brasil. Ele é seu pai?
ÍTALO - Infelizmente sim. A Sônia na verdade é mais esposa dele do que a minha mãe. Essa vadia tem até um quarto reservado nessa casa. Chega a ser piada. E sobre o meu pai, você sabe que ele é corrupto, né?
VICTOR - Todos são, não é exclusividade dele. Olha eu sei, quer dizer, eu imagino que a sua vida esteja uma merda. Mas isso é um estado condicional. Um dia você vai se ver livre de tudo isso, só que para isso você precisa estar vivo.
ÍTALO - É difícil. Nem sei porque eu tô falando sobre isso com você, mas foda-se. Mas é que... É complicado. Sempre vai ser um fardo que eu vou carregar. Eu sempre vou ser um Fernandes. Tipo, eu vou passar a vida toda tentando não decepcionar um cara que só me faz mal.
VICTOR - Você não tem que agradar ninguém. Você é uma pessoa diferente do seu pai. Tem uma coisa bem brega que minha vó sempre fala, mas que faz sentido. Não tem como fazer um bolo sem quebrar os ovos. Você precisa se impor. E o mundo pode cair na sua cabeça por causa disso, mas vale a pena. Vai dar trabalho no começo, mas pela liberdade vale tudo.
ÍTALO - É fácil falar isso de longe. Eu daria de tudo para ter uma vida como a sua.
VICTOR - Você nem me conhece, porra. É muito bom falar da vida dos outros, porque ela sempre parece mais fácil. Mas eu também tenho os meus problemas. Não fica se comparando com ninguém não. Vive a sua vida. E se serve de consolo, pelo menos você tem um pai. O meu eu nem conheço.
ÍTALO - Como não conhece?
VICTOR - Ele me abandonou. Isso é muito estranho para vocês mais ricos. Até hoje a minha amiga Jade não entende muito bem como é isso de não conhecer o pai. Mas na real, isso é bem comum de onde eu venho.
ÍTALO - E de onde é que você vem, exatamente?
VICTOR - Brasilândia. Já passou pelo menos perto de lá?
ÍTALO - Na verdade não, mas...

Ítalo fala um pouco desconcertado. Victor sorri do rapaz.

VICTOR - Relaxa, eu não vou roubar nada da sua casa.
ÍTALO - Que é isso? Eu sei. Jamais desconfiaria de você. Acho bem babaca quem faz isso e...
VICTOR - Calma, mano. Estou brincando, você leva as coisas muito a sério.

Ítalo solta um leve sorriso. Victor observa o rapaz atentamente.

VICTOR - (narrando) Alguma coisa no Ítalo me chamou atenção aquele dia. Ele é um tipo de pessoa que eu gosto de chamar de piso falso. Não é como se ele não transparecece nada, mas ele tem camadas muito mais profundas. Camadas que por algum motivo eu passei a ter vontade de conhecer.

CENA 13: INTERNA. CASA DE VICTOR. NOITE

A noite já chegou. Victor está em seu quarto, com os olhos voltados ao computador. No aparelho podemos ver que ele está no perfil de Ítalo em uma rede social. O perfil tem apenas três postagens.

SONOPLASTIA: https://youtu.be/KxJqMAQDGg4

A primeira foi no dia das crianças do ano anterior. Era uma foto de Ítalo aos dois anos, um pouco sujo de bolo. Na legenda, a frase "Cuidado com os (mini) sedutores da internet" escrita em letras minúsculas. O suficiente para arrancar uma risada de canto de Victor.

A publicação mais recente era uma foto de Ítalo no espelho, usando um terno. A foto foi publicada há cerca de quatro meses atrás. Provavelmente no dia de seu aniversário, já que na legenda havia a frase "Primeira foto com Bolsonaro [17] anos".

VICTOR - Definitivamente esse menino é meio estranho.

Enquanto ele acessa o perfil do colega, uma notificação chega até ele. "@Manudrawfuck_ marcou você em uma publicação".

VICTOR - Que legal, a Manu postou o desenho que ela fez de mim na página dela. Ela desenha bem para caralho.

Victor observa os desenhos presentes na página. Todos seguem o mesmo estilo do que ela havia lhe entregado mais cedo, sendo voltados ao surrealismo. Podemos observar muitas 'FanArts' de filmes e séries famosas, bem como de muitos artistas coreanos.

CENA 14: INTERNA. MANSÃO OLIVEIRA. NOITE

Jade e Manu estão sentadas, ainda terminando o trabalho de escola que estavam fazendo.

MANU - Já está bem tarde. Acho melhor eu ir para casa, outro dia nós terminamos.
JADE - Não, fica. Esse trabalho talvez ajude a aumentar minha nota, eu quero terminar ele o mais rápido possível.
MANU - Aumentar sua nota? E você tirou quanto?
JADE - Eu tirei nove. Eu sei que parece uma nota alta, e realmente é. Mas eu preciso de dez em todas as disciplinas.
MANU - Por quê?
JADE - O troféu de melhor aluna do ano. Aquele prêmio precisa ser meu.
MANU - Tudo isso por um troféu bobo? Você não acha que se cobra muito não?
JADE - Cada um com as suas metas. Acho que ninguém deve julgar o esforço do outro.
MANU - Você quem sabe.

As duas ficam em silêncio por algum tempo.

JADE - Se você quiser a gente termina o trabalho e depois você dorme aqui em casa.
MANU - Dormir aqui? Mas eu nem trouxe roupas, nem nada.
JADE - Eu te empresto. Uniforme eu garanto que não vai faltar.
MANU - Tudo bem... Deixa eu avisar a minha tia então.

Manu pega seu celular para mandar mensagem a sua família. Jade observa Sarah em uma festa pelos stories da menina e fica um pouco incomodada. Ela logo volta o olhar para Manu.

SONOPLASTIA: https://youtu.be/PC58QG5Ip0A

JADE - Manu, você tem alguma coisa com o Victor?
MANU - Do que você está falando?
JADE - Não sei... Você quem tem que me falar.
MANU - Eu não tenho nada com o Victor. Eu nem converso com ele direito.
JADE - Tem certeza?
MANU - Claro que eu tenho. Por que esse interrogatório todo?

Jade aproxima sua cadeira da de Manu e coloca a mão sobre a perna da menina, que cora um pouco.

JADE - É porque eu não quero ser filha da puta com o meu amigo. Mas eu quero muito te pegar.
MANU - Jade, você está bem?
JADE - Eu estou ótima. Mas eu posso ficar melhor ainda, só depende de você.

Jade passa as mãos pelo pescoço de Manu e a puxa para um beijo. Um beijo quente e com desejo. Jade abre os olhos algumas vezes durante o ato, imaginando estar beijando Sarah.

[Encerramento]: https://youtu.be/3hi2U8t2ZBs