CENA 4: INTERIOR. PASSAGEM SECRETA. DIA
| Joaquim sentado na beirada da cama, conversa com Cecília. |
JOAQUIM - Eu não sei nem o que dizer, mãe. Eu deveria estar feliz por encontrar a senhora, mas eu estou me sentindo tão mal. É como se minha vida toda fosse sido uma mentira.
CECÍLIA - E eu só quero que vosmecê fique bem, Joaquim. Faz mais vinte anos que estou presa aqui dentro, mas eu passava os dias tentando imaginar como seria sua aparência já adulta. Parece que eu estou sonhando, meu filho.
JOAQUIM {Emocionado} - Eu só quero ficar ao lado da senhora, não quero me desgrudar de vosmecê.
| Joaquim apoia sua cabeça no peito de Cecília. |
JUREMA - E o casamento?
CECÍLIA - Casamento? Meu filho vai se casar??
JOAQUIM {Sério} - Não, não haverá casamento algum. Diante disso aqui, eu jamais me deitaria as ordens do coronel Nabuco. Esse monstro irá pagar por tudo que fez, mãe.
CECÍLIA - Baltazar é um homem ardiloso, ele é rasteiro e nos ataca quando menos esperamos. Perdi o grande amor de minha vida trancada dentro deste inferno, e o pior... Não vi meu próprio filho crescer.
| Lágrimas escorrem do rosto de Cecília, Joaquim levanta sua cabeça e seca as lágrimas da mãe. |
JOAQUIM - Não derramará uma lágrima por conta desse infeliz, mãe. Prometo a senhora que Baltazar Nabuco pagará da pior maneira possível por todas as atrocidades que cometeu.
CECÍLIA {Chorando} - Eu já tenhos minhas dúvidas, Joaquim.
JOAQUIM {Sério} - O inferno dele começa aqui, agora!
| A CAM foca no olhar desbravado de Joaquim. |
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CENA 5: INTERIOR. BASE MILITAR. DIA
| Naju já constrangida pela situação, se afasta de Ulisses. |
NAJU {Envergonhada} - Perdão, major. Apenas queria consola-ló, sinto muito.
ULISSES - Não preciso de consolo, cadete. Muito menos que toque em mim, ouviu bem?
NAJU - Claro, isso jamais voltará a acontecer.
| Ulisses seca suas lágrimas e se dirige a porta. |
ULISSES - Obrigado.
NAJU - Pelo que?
ULISSES - Por ter me ouvido.
| Ulisses se retira e Naju solta um sorriso em seu rosto. |
NAJU {Sorrindo} - Pelo visto o major tem coração, nunca tinha visto um ogro chorar. Ah, Deus! Como tem sido proveitoso esse tempo aqui, até aprendi que homens choram!
| Naju sai também soltando gargalhadas. |
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CENA 6: EXTERIOR. FAZENDA BENEVIDES. FIM DE TARDE
| Chinara sentada nos degraus da varanda, olha para o céu. Martina que passa por lá, aparece e se senta ao lado dela. |
CHINARA - Oi, Martina. Quero lhe pedir desculpas por ontem... Estava frágil e acabei desabando em lágrimas quando te vi.
| Martina sorri e segura as mãos de Chinara. |
CHINARA {Lacrimejando} - Vai ser muito difícil, Martina. Será impossível permanecer aqui sabendo que Joaquim está se casando com Nadine nesse exato momento.
| Chinara tenta se recompor, mas é em vão. |
CHINARA - Fui traída pelos meus próprios sentimentos, enganada e desmentida por si própria. Nunca pensei que fosse amar alguém, muito menos alguém como Joaquim. Mas eu sei que ele jamais se casaria com alguém como eu... Uma escrava, uma negra.
| Chinara apoia sua cabeça no ombro de Martina enquanto ela acaricia seus cabelos. |
CHINATA {Chorando} - Minha vida foi fardada ao sofrimento a partir do momento em que nasci... É duro saber que nunca serei livre, e que nunca mais vou voltar a ser amada.
| A CAM se afasta mostrando as duas abraçadas ao pôr do sol. |
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CENA 7: INTERIOR. ATELIÊ. FIM DE TARDE
| Yuriko já nua se mantém em uma pose, diante de Ana que segura o cavalete em mãos e pinta a tela enquanto mantém seu olhar para sua amada. |
ANA - Não posso acreditar que esse momento é real, Yuriko. Teu corpo belíssimo emoldurado em uma obra minha.
YURIKO - Mas essa tela jamais sairá daqui de dentro, Ana. Essa foi a única regra pré estabelecida por mim.
ANA - E acha mesmo que deixarei qualquer outra pessoa ver a minha mulher pelada? Jamais!
YURIKO {Sorrindo} - Sua mulher?
| Ana se levanta caminhando até Yuriko, a mesma leva o cabelo dela atrás da orelha e acaricia seu rosto. |
- SOM ON. -
https://youtu.be/1dYJZ68tU5M
ANA {Admirada} - Eu posso?
YURIKO - Tu pode tudo, Ana...
| Ana lentamente encosta suas mãos nos seios de Yuriko, e passa seus lábios sobre o pescoço dela. Yuriko já está póstuma de prazer, e geme silenciosamente conforme os lábios de Ana se chocam com seu corpo nu. Ana e Yuriko se olham fixamente, ela calmamente retira a roupa de Ana até ambas se encontrarem nuas. Cada uma entregue a outra de uma maneira ardente, seus corpos entrelaçados e suas reparações próximas. Elas se beijam loucamente, até se deitarem ao chão de madeira. A CAM vai se afastando devagar podendo apenas se ouvir os gemidos de prazer. |
- SOM OFF. -
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CENA 8: EXTERIOR. RUAS DA CAPITAL. NOITE
| A rua está deserta, Peixoto caminha enquanto olha em volta. Ele é surpreendido pela chegada de Coutinho. |
COUTINHO {Sorrindo} - Ora ora, soldado Peixoto. Como é bom vê-lo depois de tanto tempo.
PEIXOTO - Não deveria estar rondando por aí enquanto existem rebeldes a solta, Coutinho.
COUTINHO - Quer dizer então que lembra meu nome... É incrível como depois de algum tempo ainda tenha resquícios de mim em sua memória.
PEIXOTO {Sério} - Pouparei de entender suas palavras férteis e sem sentido, rapaz. É melhor que dê meia volta e se retire.
| Coutinho se aproxima de Peixoto fazendo com que seus rostos fiquem próximos. |
COUTINHO - Tem certeza que não quer me acompanhar? Essa cidade está tão perigosa...
PEIXOTO - Já é grandinho o suficiente para se proteger, Coutinho.
COUTINHO - E seria de algum incômodo me levar até em casa?
| Peixoto range sua garganta e olha em torno da rua novamente. |
PEIXOTO {Sério} - Lhe levarei até a porta de casa, nada mais.
COUTINHO {Sorrindo} - Tudo bem, mas ainda não me dou por vencido, soldado.
| Coutinho sorri e começa a andar, Peixoto vai atrás dele enquanto continua a olhar atentamente para a rua. |
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CENA 9: INTERIOR. FAZENDA BENEVIDES. NOITE
| Todos adentram a sala e sentam no sofá exaustivos. |
KOTARO - É melhor me deitar, a noite de hoje foi completamente pavorosa. Tenho pena de você, Antonio. Carregando o fardo de ter uma filha largada no altar.
ANTONIO - Pior a sua... Que jamais pisara os pés dentro de uma igreja!
KOTARO {Irritado} - Como é que é??
NOZORI - Vamos nos deitar, Kotaro. Por favor!
| Nozori e Kotaro se retiram. Dorotéia se levanta com dificuldade. |
DOROTÉIA {Preocupado} - Aonde está nossa filha, Antonio?
ANTONIO - Salvador levou ela... Só não sei aonde, mas creio que aquele idiota cuidará bem dela. É melhor mesmo que Nadine fique longe por um tempo, a cidade inteira falará disso amanhã.
DOROTÉIA {Chorando} - Eu vou rezar por Nadine, minha menina não merecia isso. Foi muita crueldade daquele maldito!
| Dorotéia vai em direção do seu quarto, Chica aparece acompanhada de um homem. |
ANTONIO - Quem é esse, Chica?
CHICA - Disse que veio a mando do seu Nabuco, seu Antonio.
HOMEM - Prazer, seu Antonio. Me chamo Felizardo e sou dono de uma fazenda próspera, estava à procura de uma mucama e seu Baltazar me indicou uma que o senhor está vendendo.
ANTONIO - Perfeito, pelo menos em meio de tantas tragédias aconteceu alguma coisa boa. Aonde está Chinara, Chica?
CHICA - Na senzala.
ANTONIO {Sorrindo} - Então me acompanhe, seu Felizardo. Irei lhe apresentar a melhor escrava que já tive!
| Antonio estende a mão para o homem sorrindo. |
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CENA 10: INTERIOR. CASA NABUCO. NOITE
| Baltazar adentra sua casa chutando a porta, tudo que ele vê pelo caminho vai quebrando. Aos berros vai chamando Joaquim. |
BALTAZAR {Irado} - Cadê tu, maldito? Apareça!
| Baltazar com a respiração ofegante olha em volta da sala, até Joaquim descer as escadas com os braços cruzados. |
JOAQUIM - Me chamou, papai?
BALTAZAR {Raiva} - Eu vou matar vosmecê!
| Baltazar vai para cima de Joaquim o segurando pelo colarinho. |
BALTAZAR - Não sabe a vergonha que me fez passar, seu cretino. Nos tínhamos um acordo e por culpa sua aquela escravinha vai sofrer as consequências de sua libertinagem!
JOAQUIM - Tu não tocarás um dedo em Chinara, ou, todo mundo vai saber quem é vosmecê de verdade!
BALTAZAR {Rindo} - Acha mesmo que terei medo de um muleque mimado feito vosmecê? Como pensa em fazer isso, hein??
CECÍLIA - Porque eu vou a público e contarei a todos que me manteve presa durante todo esse tempo!
- SOM ON. -
https://youtu.be/eJz9iRSsm-0
| Cecília aparece na sala sentada em uma cadeira com ajuda de Jurema. Baltazar engole seco, seus olhos se arregalam em segundos. Ele lentamente se vira de frente para ela. |
BALTAZAR {Incrédulo} - O que é isso? É algum tipo de piada?
CECÍLIA {Sorrindo} - Sentiu saudades, Baltazar?
| Foco em Baltazar que ainda se mantém incrédulo. |
- SOM OFF. -
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CENA 11: INTERIOR. SENZALA. NOITE
| CAM acompanha Chinara e Martina que entram na senzala e se dirigem até a cama da protagonista. |
CHINARA - Não precisava me acompanhar, Martina. Eu estou bem, quer dizer, uma hora eu vou ficar bem.
| Martina segura as mãos de Chinara e sorri para ela. |
CHINARA {Sorrindo} - És uma grande amiga, viu? Acredita que me lembra a minha mãe adotiva? Tu cuida de mim assim como Zilda cuidava... Ela era tão especial, deu a vida por mim.
| Chinara se senta na beirada da cama. |
CHINARA {Lacrimejando} - Ela podia não ser minha mãe de sangue, mas fez de tudo por mim. Às vezes na calada da noite me pego pensando nela, e a única idéia que me conforta é que os orixás estão cuidando dela.
| Chinara passa a mão em seu peito e retira o medalhão. |
CHINARA - Ela me deu esse medalhão antes de morrer, ainda acreditava na hipótese de eu reencontrar minha mãe biológica.
| A mão de Chinara se estende mostrando o medalhão em mãos. Close em Martina que em CAM lenta reconhece o medalhão em mãos, nesta hora ela já se vê paralisada. O tempo para por um instante, seu olhar marejado se fixa com aquele medalhão. |
- Flashback ON. -
| A CAM aproxima de uma escrava que segura seu bebê no colo, ela está deitada e com lágrimas nos olhos conversa com a criança. |
- SOM ON. -
https://youtu.be/7Iy-w397s3w
MARTINA {Jessica Ellen} - Perdoa-me, perdoa-me por isso. Eu não queria, filha. Eu não queria ter que lhe dar... Me perdoa!
| Martina acaricia o rosto do bebê e em seguida retira um medalhão de seu pescoço. |
MARTINA {Chorando} - Quero que tenha pelo menos uma única lembrança de sua mãe... Quero um dia poder te reencontrar, minha filha.
| Martina esconde o medalhão no meio do manto que cobre o bebê. Antonio aparece já puxando a criança das mãos de Martina. |
MARTINA {Chorando} - Tu não pode fazer isso comigo, Antonio. Eu lhe suplico, te peço pelo menos um pouco de piedade e por favor me deixe ficar com minha filha!
ANTONIO - Acha mesmo que terei mais uma dor de cabeça? Dorotéia já está desconfiada sobre esse bebê, e eu não permitirei que uma escrava destrua meu casamento.
MARTINA {Gritando/Chorando} - NÃO, ANTONIO, NÃO!
ANTONIO {Sério} - Agora se recomponha, ainda terá de amamentar minha FILHA, Nadine.
| Antonio sai com o bebê no colo enquanto Martina continua a gritar. |
MARTINA - MINHA FILHA!!
- Flashback OFF. -
| Instrumental continua. Martina já está com lágrimas nos olhos olhando o medalhão, Chinara estranha e se levanta. |
CHINARA - Vosmecê está bem?
MARTINA {Chorando/Sorrindo} - Minha filha... MINHA FILHA!
| Martina abraça Chinara inesperadamente. |
MARTINA {Chorando} - Tu é minha filha, Chinara. Tu é minha filha!
CHINARA {Chocada} - O que??
| Antonio adentra a senzala com o homem ao seu lado. |
ANTONIO {Surpreso} - Não, isso não pode estar acontecendo!
| Foco em Antonio e close final em Martina e Chinara. |
✒️ • A IMAGEM CONGELA E SE EMOLDURA EM UMA PÁGINA DE LIVRO. AO SE FECHAR NA CAPA ESTÁ ESCRITO, "DAMAS DO PASSADO". • ✒️
[Encerramento]: https://youtu.be/wW9hWTmzI3s
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