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Damas do Passado: Capítulo 05

CENA 4: INTERIOR. CASA MIYAZAKI. DIA 

| Do alto é mostrado Yuriko que caminha por todos os cômodos da casa. Sua mão se choca com os móveis que enfeitam todo o cenário, seu andar é lento e suas expressões se perpetuam um único sentimento que é a tristeza. Os móveis presentes da sala, já não estão mais no take seguinte. | 

NOZORI - Arrumou suas malas, Yuriko? 

YURIKO - É triste ter que largar tudo que construímos por puro capricho, okaasan. Como se nosso poder de escolha não fosse importante. 

NOZORI - E que escolha teríamos? Kotaro sempre foi o chefe da família e continuará sendo. Não quero encher a cabeça de Kotaro com mais problemas, então pare com esse comportamento ou... 

YURIKO {Séria} - Ou o que? Se nem mesmo a san exerce algum tipo de poder aqui dentro. O otousan nos vê com os mesmos olhos, os mesmos olhos em que ele vai com a direção da mão em nosso corpo. 

NOZORI {Assustada} - Yuriko... 

YURIKO - Não adianta eu lhe suplicar por algum tipo de misericórdia, pois todos serão em vão. Eu te amo, e me dói saber o que acontece naquele quarto. Eu ouço os gritos... O choro e todas as vezes em que você pede para parar. 

| Nozori se põe em lágrimas e se vira de costas na intenção de que Yuriko não veja. | 

NOZORI {Chorando/Raiva} - Suba para seu quarto e não saia de lá até a presença do seu pai! 

YURIKO - Quando me olho no espelho apenas vejo marcas e essas marcas me lembram o quão miserável é está vida. 

| Yuriko se retira e Nozori que já não aguenta segurar as lágrimas, chora compulsivamente. | 

- SOM OFF. - 

• BRASIL, RIO DE JANEIRO. •

| Fotografias em formato de pintura mostram um novo dia que nasce. | 

👒

CENA 5: INTERIOR. SENZALA. DIA. 

| Chinara está deitada com seu corpo coberto por lençóis. Uma escrava passa um pano molhado em seu rosto e Antonio adentra a senzala em seguida. | 

ANTONIO - Como ela está?

CHICA- Passou a noite delirando em febre, mas depois começou a voltar em sã consciência. Fiz um chá de macela que é ótimo para abaixar febre e estou passando babosa para que assim as feridas sejam cicatrizadas. 

ANTONIO - Perfeito, assim meu dinheiro será preservado. Agora me deixe a sós com ela, Chica. 

CHICA - Como queira, seu Antonio. 

| A escrava se retira e Antonio se senta na beirada da cama. Chinara vira seu rosto. | 

ANTONIO {Sorrindo} - Essa cama de tábua não é do seu merecer, querida. Prometo que um dia dormirá em uma cama bem aconchegante e seu travesseiro será de plumas. 

| As palavras de Antonio parecem não fazer sentido para Chinara. Ela vira seu rosto para ele e olha seriamente. | 

CHINARA - O que quer de mim? 

ANTONIO - Pelo visto fala, não é muda. Como é bom ouvir o doce som que saí de tua boca, Chinara, um belíssimo nome. Tua aparência me recordas de alguém que gostei muito, é como se eu tivesse voltado no tempo... 

| Antonio começa a alisar o rosto de Chinara. | 

ANTONIO {Sorrindo} - É impressionante como até os traços mais simples se assemelha à ela... Sua beleza é estonteante e capaz de transformar qualquer homem infeliz, no mais feliz que existe. 

| Antonio se levanta ajeitando suas calças. | 

CHINARA {Séria} - Eu não me deito com qualquer um! 

ANTONIO - Eu não sou qualquer um, eu sou seu dono. E não se esqueça, a partir de agora vosmecê é minha! 

| Foco em Chinara que respira aflita. Antonio sai e Chica entra logo em seguida. | 

CHICA - Pelo visto seu Benevides está encantado com vossa pessoa, Chinara. Nunca vi este homem desse jeito! 

CHINARA - Esse homem é louco... 

CHICA - É, mas ele é seu dono. Tu agora é propriedade dele, seu destino, assim como o meu está nas mãos do seu Benevides. 

CHINARA {Séria} - Não, eu não tenho dono. Sou dona da minha própria vida e não vai ser esse homem que irá me obrigar a se deitar com ele! 

👒

CENA 6: INTERIOR. ATELIÊ. DIA 

| Ana bate seu dedo seguidamente em seu rosto enquanto olha para uma tela em sua frente. | 

COUTINHO - Avê Maria, já faz meia hora em que está parada encarando essa tela em branco. 

ANA - Essa tela representa o que se passa em minha cabeça, Coutinho. Branco! É como se eu não conseguisse pegar o pincel e imaginar algo... É como se todos meus pensamentos estivessem em nulo. Já faz um mês que não pinto um quadro, minha mente está tão desconexa em minha própria irrealidade. 

COUTINHO - Então trate de voltar a pintar ou passará o resto de sua vida como uma velha pedindo esmola na Quinta. 

ANA - Que belo amigo eu tenho... 

| Naju adentra o ateliê cumprimentando Ana e já ficando à frente de Coutinho. | 

NAJU {Nervosa} - Coutinho, antes de dar seu veredito gostaria de expressar o que sinto em relação a esse sonho. 

COUTINHO - Não, por favor. Já estou completamente combalido depois daquele seu discurso, e cheguei em uma decisão. 

NAJU - Vou soltar um sorriso no canto da boca e fingir que entendi sua piada. Agora me conte, tomou mesmo a sua decisão? Pensou com cuidado? Pensou em como isso me ajudará? Pensou que... 

COUTINHO - Chega, Naju. Está pior do que padre na hora de confessar algo. Minha decisão foi tomada e seria completamente egoísta da minha parte recusar um pedido seu. Quando vim para o Rio foi uma das primeiras a me estender a mão. 

NAJU {Emocionada} - Está falando sério?? 

| Coutinho segura as mãos de Naju e sorri para ela. | 

COUTINHO - Por mais insano que seja isso, eu irei te ajudar. Estaria sendo contra meus princípios recusar algo tão... Olha, apenas aceite minha ajuda e reze para eu não mudar de idéia. 

NAJU {Sorrindo} - E eu prometo que não irá se arrepender, está me dando uma oportunidade única onde eu possa ser a dona do meu próprio destino. Dona daquilo que eu acredito e que lutarei com honra diante de nosso país. 

ANA - A sua persistência à esse sonho é muito bonito, Naju. Entretanto, existe um fator muito importante, como irá se portar na frente de tantos homens? E ainda tem o pior, vosmecê não possuí nenhum tipo de conhecimento a como se manusear uma arma e ainda mais estando em um confronto. 

NAJU - E quem disse que isso será um impasse? Lutarei com unhas e dentes, provando assim a todos do que uma mulher pode ser capaz. E tudo isso, sem eles saberem! 

COUTINHO {Sério} - Que Deus proteja este país! 

• JAPÃO, TÓQUIO. •

👒

CENA 7: INTERIOR. CASA MIYAZAKI. DIA 

| Takes se sobrepõe um ao outro mostrando toda a casa Miyazaki sendo esvaziada aos poucos. Yuriko e Nozori descem as escadas lentamente. | 

RAIJIN - Durante toda a viagem teremos aula de português. Serão meses árduos e teremos de adaptar ao novo modo de vida. 

NOZORI - Serão apenas dois anos no Brasil, Raijin. Não é, Kotaro? 

KOTARO - Depende, se o negócio com a família brasileira ter uma grande evolução, talvez ficaremos mais tempo que o previsto. 

NOZORI {Surpresa} - Mais tempo? 

KOTARO - Agora chega! Não podemos perder o navio, andem! 

| Todos saem, menos Yuriko. Ela permanece parada no mesmo lugar e olha em volta de sua casa. | 

- Voz de Yuriko ao fundo. 

YURIKO {Off} - A partir de hoje se traça um novo caminho em minha vida. Um caminho que ainda em desconhecido possa se tornar aquele que me mostrará um novo percurso, e que percurso seria esse? 

👒

CENA 8: INTERIOR. SENZALA. NOITE

| Chinara tem suas costas tratadas por uma outra escrava. Suas costas estão com cicatrizes e ela geme de dor. | 

YURIKO {Off} - Talvez um percurso que me mostre ainda mais a dor que a vida pode nos trazer. Daquele que nos façam desistir, ou aquele que nos mostre um novo significado sobre nossas feridas ainda em aberto. 

ESCRAVA - Ainda dói? 

CHINARA {Chorando} - Dói... Dói muito! 

| Chinara aperta seu medalhão em mãos. | 

👒

CENA 9: INTERIOR. QUARTO DE ANTONIO. NOITE. 

| Naju entra no quarto as escondidas. Ela passa a chave na porta e cuidadosamente abre as gavetas, ela parece procurar por algo em meio as roupas e ao achar um sorisso se expande em seu rosto. | 

YURIKO {Off} - Mas o que quero mesmo é desbravar novos horizontes, conhecer aquilo que me limita. Ter o poder sobre a minha própria vida, mas esses pensamentos ainda são impossíveis para mim. 

| Naju se aproxima do espelho e mira uma arma em sua direção. | 

NAJU {Sorrindo} - Maria Joana? Não, agora sou José Couto! 

👒

CENA 10: EXTERIOR. CAIS. DIA. 

| A CAM segue os passos de Yuriko até o navio. Ela para por um segundo, respira firme e olha pela a última vez a paisagem do Japão. | 

YURIKO {Off} - Estou em rumo do desconhecido. 

| Uma única gota de lágrima caí em seu rosto. | 

✒️ • A IMAGEM CONGELA E SE EMOLDURA EM UMA PÁGINA DE LIVRO. AO SE FECHAR NA CAPA ESTÁ ESCRITO, "DAMAS DO PASSADO". • ✒️


 

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