Cena 8: Interna. Tribunal. Dia
RÉU - O tiro dado no senhor Gabriel foi em legítima defesa. O jovem tentou atacar a mim e ao outro policial presente.
JULIA - (gritando) Que legítima defesa? O senhor atirou contra o meu filho depois de espancar ele. Seu covarde!
O juíz bate o martelo.
JUÍZ - Silêncio no tribunal! Prossiga senhor José Sampaio.
RÉU - Como eu ia dizendo, antes de ser interrompido, o jovem rapaz estava muito agressivo. Parecia até estar sobre efeito de entorpecentes.
DEFENSOR PÚBLICO - Desculpa a intromissão meritíssimo, mas a autópsia e os exames toxicológicos garantem que a vítima estava sóbria.
RÉU - Provas que podem ser claramente fraudadas, ainda mais em um caso com tamanha repercussão.
Uma confusão acaba se criando no local. Muitos gritos de repúdio ao réu podem ser ouvidos.
JUÍZ - Chega! Vamos dar um intervalo na seção. Voltamos em uma hora.
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A imagem desvanesce e abre de novo mostrando Cléo, Hina, Júlia, Maria, Rafa, Hugo e as testemunhas depondo.
JUÍZ - Diante dos fatos apresentados neste tribunal, o homicídio cometido pelo réu José Sampaio Guerra é considerado doloso qualificado. Como pena legal para este delito eu declaro 24 anos em regime fechado.
O réu segura o choro de raiva. Julia que já estava muito emocionada, começa a chorar de felicidade.
JULIA - (chorando/feliz) Justiça meu Deus! Justiça pelo meu filho!
Hina vai até ela. As duas se abraçam muito emocionadas.
HINA - (chorando/feliz) Ele deve estar muito orgulhoso da gente... Eu tenho certeza.
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Cena 9: Interna. Pensão. Noite
Sophia está em seu quarto triste. Camila chega até ela.
SOPHIA - Como foi no trabalho hoje amiga?
CAMILA - Foi bem até. Ainda está sendo um pouco difícil pra eu me acostumar com essa rotina de trabalho e tals, mas por enquanto está dando tudo certo.
SOPHIA - Que bom.
CAMILA - Você parece triste, amiga. Aconteceu alguma coisa?
SOPHIA - O Lipe vai embora.
CAMILA - Embora? Como assim embora?
SOPHIA - Ele vai voltar para a casa dele no Rio. Mas eu queria que ele ficasse.
CAMILA - Você não quer que ele vá embora, mas também não decide se quer ou não ficar com ele. Ele não pode parar a vida dele para esperar você se decidir.
SOPHIA - Você tem razão... Eu preciso acabar com isso hoje ainda. Ou melhor, agora.
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Cena 10: Interna. Mansão Rogatto. Noite
Vera está olhando as estrelas. Joana se aproxima dela.
JOANA - Tudo bem aí, dona Vera?
VERA - Tudo... Eu só estava lembrando um pouco da Renata.
JOANA - Não fica pensando nisso não. Não vai te fazer bem.
VERA - Eu sinto falta da minha filha. Ela se tornou aquele monstro todo, mas ainda era a minha menina.
JOANA - Às vezes os filhos tomam rumos que a gente não gosta. É normal. A Renata fez a escolha dela.
VERA - Eu sinto como se fosse minha culpa. Eu podia ter feito alguma coisa para evitar.
JOANA - Dona Vera a senhora fez o que podia. Ela estava ameaçando te matar. Não tinha o que a senhora fazer.
VERA - Será? Talvez teria sido melhor eu ter partido no lugar dela.
JOANA - Claro que não. A senhora não merecia isso. Ninguém merece na verdade, mas a Renata traçou esse caminho. Não é sua culpa.
VERA - Eu fico imaginando o que seria de mim sem você pra me aconselhar, minha querida.
Elas se abraçam.
JOANA - Eu vou estar sempre aqui para ajudar a senhora. Pra mim a senhora é como uma mãe.
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Cena 11: Interna. Casa de Maria. Noite
Caio e Sophia estão sentados conversando.
CAIO - E então? O que você tinha para falar comigo?
SOPHIA - Eu vou ser bem direta, Caio. Desde aquele dia que você foi lá na pensão atrás de mim, eu fiquei muito confusa. Eu até terminei com o Lipe por conta disso.
CAIO - Então isso quer dizer que você ainda sente alguma coisa por mim?
SOPHIA - Sinto... Você sempre vai fazer parte da minha vida. Mas, durante a vida pessoas vão saindo e outras vão entrando. E essas que vão entrando acabam se tornando tão especiais quanto as que já faziam parte.
CAIO - O que você quer dizer com isso?
SOPHIA - Eu queria te dizer que o que aconteceu entre a gente pra mim são águas passadas, eu te perdoo de verdade. Mas o meu coração é do Lipe.
Caio fica um pouco cabisbaixo.
SOPHIA - Não fica triste, por favor. Eu espero que você entenda.
CAIO - Sophia, não se preocupa comigo. Eu já pisei muito na bola com você, mas o que eu mais quero agora é que você seja feliz. Mesmo que não seja comigo. Só de ter o seu perdão já está de bom tamanho.
Eles se abraçam.
SOPHIA - Fica bem, tá?
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Cena 12: Interna. Mansão Campos. Noite
César está na mesa assinando alguns papéis. Graziela desce as escadas e vai até ele.
GRAZIELA - Que papéis são esses?
CÉSAR - Eu vou me mudar. Esses são os papéis do apartamento que eu comprei para morar com a Maria. Desculpa não ter te avisado antes.
GRAZIELA - Por mim tanto faz.
CÉSAR - Não é assim também, vai Graziela. A gente tem nossas diferenças, mas a gente é irmão, poxa.
GRAZIELA - Eu sei, César. Mas você está noivo. Era óbvio que uma hora ou outra você ia acabar se mudando. Não precisa desse drama todo.
CÉSAR - Eu fico preocupado com você. Você vai ficar morando sozinha nessa casa...
GRAZIELA - Eu não me importo. Eu sempre fui sozinha, nunca tive ninguém por mim. Eu estou acostumada.
CÉSAR - Tem certeza?
GRAZIELA - Absoluta. Fica tranquilo que eu sei me cuidar bem sozinha.
Graziela sobe as escadas novamente a caminho de seu quarto.
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Cena 13: Interna. Pensão. Noite
Lipe está no jardim da pensão. Sophia vai até ele.
SOPHIA - Preciso falar com você, Lipe.
LIPE - Pode falar.
SOPHIA - Eu sei que eu demorei um pouco pra tomar uma decisão, mas eu já consegui fazer isso.
LIPE - Que bom. E então?
SOPHIA - Eu conversei com o Caio, a gente se acertou e eu expliquei para ele que eu perdoava ele.
LIPE - E vocês estão juntos, é isso?
SOPHIA - Não... O Caio me ensinou muitas coisas. Boas e ruins. Ele vai ser sempre especial pra mim. Mas eu não sinto mais amor por ele.
Lipe começa a ficar emocionado.
SOPHIA - Quem eu amo de verdade é você. E eu não sei se a gente vai ficar juntos ou se você ainda quer ficar comigo, mas...
Antes que Sophia terminasse de falar, Lipe puxa a garota para um beijo.
LIPE - Respondi sua pergunta?
SOPHIA - Respondeu sim... Eu não quero ficar longe de você mais nem um segundo. Por favor, me diz que você não vai mais embora.
LIPE - Eu não vou de jeito nenhum. Agora eu quero ficar aqui do seu lado.
Eles voltam a se beijar.
[LEGENDA]: 6 MESES DEPOIS.
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Cena 14: Interna. Apartamento de Cássio. Dia
NAZARÉ - Casar com a Cléonice? Tem certeza que você quer uma coisa dessas pra sua vida?
CLÉO - Mãe!
NAZARÉ - Tem que falar a verdade pro moço, Cléonice. Olha sr. Cássio, a Cléonice ela não gosta de limpar a casa, lavar a louça. Ela é porca, imunda, deixa as calcinha dela pendurada no box uma semana. Não sabe cozinhar nada, uma vez ela foi fazer uma omelete lá na pensão tocou fogo na cozinha.
CLÉO - Mãe, pelo amor de Deus dá para a senhora ficar quieta?
NAZARÉ - Tem que ser sincera, ué. Não pode fazer propaganda enganosa não, minha filha.
Cássio sorri.
NAZARÉ - Mas se mesmo assim o senhor quiser uma praga dessa na sua vida, tudo bem. Eu dou o maior apoio.
CÁSSIO - Pode ter certeza que eu quero sim. A sua filha mesmo com todas essas coisas me faz muito feliz.
Cléo e Cássio se beijam.
NAZARÉ - Também não precisa ficar fazendo safadeza na minha frente.
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Cena 15: Externa. Ibirapuera. Dia
Rafa e Hina estão sentados no gramado, enquanto observam Théo brincando com outras crianças.
RAFA - É tão bom finalmente ver o Théo conseguindo socializar com outras crianças. Quando eu adotei ele, ele odiava contato com outras pessoas.
HINA - Vai dar tudo certo amigo, com o tempo ele só tende a melhorar mais e mais. Com um pai maravilhoso igual você já era de esperar.
RAFA - Você também vai ser uma ótima mãe um dia. Eu tenho certeza.
Théo chega até eles.
THÉO - Papai, eu estou com sede.
RAFA - Bonito né senhor Théo? Quando você está com seus amiguinhos você só chega perto de mim pra pedir água ou comida. Vai desprezando seu pai mesmo...
THÉO - É que agora é hora de brincar, papai. Mas você sabe que eu te amo.
RAFA - Eu sei filho, tô só brincando. Toma água aqui vai.
Rafa entrega uma garrafinha de água ao garotinho, que dá um beijo no pai e volta para brincar.
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Cena 16: Interna. Mansão Almeida. Dia
Carmen está sentada vendo algumas fotos de Camila. Augusto chega até ela.
AUGUSTO - Saudades da Camila?
CARMEN - Um pouco...
AUGUSTO - Por quê vocês duas não conversam? Já estão há mais de seis meses sem se falar.
CARMEN - A gente tem que ser firme, Augusto. Ela escolheu o caminho dela.
AUGUSTO - Fale por você. Eu falo com a minha filha todos os dias. Nesses meses eu tenho pesquisado sobre essas questões de sexualidade e tal, e eu realmente acredito que as pessoas não escolhem isso. Elas nascem assim.
CARMEN - Não Augusto. Ninguém nasce assim. Deus fez o homem e a mulher. Ponto final.
AUGUSTO - Você quer falar de Deus? Pois então, Deus também falou que as pessoas devem amar e respeitar os seus filhos acima de qualquer coisa.
CARMEN - Não importa, Augusto. Eu não vou voltar atrás. Enquanto a Camila não desistir dessa loucura, eu não falo com ela!
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Cena 17: Interna. Casa de Sophia e Lipe. Dia
SOPHIA - Você nunca mais falou com a sua mãe amiga?
CAMILA - Não... Eu falo sempre com o meu pai. Mas com a minha mãe é mais complicado.
SOPHIA - Triste isso... Não consigo entender como uma mãe pode fazer isso com a própria filha.
CAMILA - Definitivamente a gente não tem sorte em questão familiar, né amiga?
Elas sorriem.
CAMILA - Mas de coração eu pensei que ia ser mais doloroso. É tão boa a sensação de saber que você é livre e que todo mundo sabe disso, que no final você nem se importa com quem tá ou não satisfeito com isso.
SOPHIA - É, eu já passei por coisas parecidas. Durante muito tempo eu me importava muito com a opinião da minha mãe. Hoje em dia, é como se ela nem existisse.
CAMILA - É isso aí. A gente precisa se importar com quem se importa com a gente. Se a minha mãe um dia quiser se acertar comigo, eu vou estar de braços abertos. Se não, tudo bem também. O importante é que eu estou ótima comigo mesma.
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Cena 18: Interna. Restô. Noite
Aline, Joana e Maria estão arrumando algumas coisas no restô.
JOANA - Eu estava aqui pensando em como a minha vida mudou nesses últimos meses.
ALINE - A minha mudou completamente também.
MARIA - Considerando que até um ano atrás eu era garota de programa e agora eu estou quase casada, eu acho que a minha mudou um pouquinho também.
ALINE - É... Faz sentido.
MARIA - Mas sinceramente eu não tenho a menor vergonha do meu passado. Muito pelo contrário.
ALINE - E não tem que ter mesmo não. Se você já foi garota de programa, só você sabe o que você passou. E é uma profissão como qualquer outra.
JOANA - Exatamente. Por muitos anos eu tinha vergonha de falar sobre a minha vida no Tocantins, por quê eu achava que o que o meu padrasto tinha feito era culpa minha. Mas com o tempo eu percebi que ele que era um assediador nojento.
ALINE - A gente não pode ter vergonha da nossa história, das nossas cicatrizes, marcas. Elas que contam o que a gente é.
Elas escutam uma buzina de carro.
MARIA - O César chegou para me pegar. Tchau meninas, até amanhã.
JOANA - Eu já vou indo também que eu ainda tenho que passar lá no shopping para dar um beijo no Pedro.
MARIA - Quer carona? A gente vai passar lá em frente.
JOANA - Vou aceitar sim.
Maria e Joana saem a caminho do carro de César.
ALINE - É menino... Dia hoje foi cansativo. Deixa eu fechar aqui direitinho igual o seu Hugo e a dona Júlia pediram.
Aline fecha a porta do restô. A imagem vai escurecendo aos poucos.
🔱 • A IMAGEM CONGELA E UM RASTRO DE POEIRA PASSA SOBRE A TELA, ESPALHANDO UM TOM ALARANJADO SOBRE A IMAGEM JUNTO DO NOME "FIM". • 🔱
[Encerramento]: https://youtu.be/qUAfkK0nwP4
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